A HQ O Incal, lançada originalmente na França entre 1981 e 1988 e considerada por muitos como a obra máxima de Alejandro Jodorowsky, ilustrada pelo mestre Moebius, retornou ao Brasil de forma triunfal pela editora Pipoca e Nanquim – que lança toda a série em 3 edições com acabamento luxuoso e capa dura.
Com o anúncio feito pela famosa editora, muitos leitores estão tendo contato pela primeira vez com a série e um debate acalorado tem tomado conta dos fóruns digitais: afinal, vale a pena ler O Incal?
É importante que entendamos que esse debate toma ainda mais corpo por conta do valor monetário da obra que faz com que o leitor fique temeroso. Afinal, se ele não gostar, o “prejuízo” é grande.
Iremos detalhar alguns dos pontos principais da HQ para que você possa ter mais informações para decidir se vale ou não o investimento!
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Os belos painéis são um grande atrativo da HQ O Incal de Jodorowsky e Moebius.
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Vale a pena ler O Incal? – A trama
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Para aqueles que nunca tiveram contato com nenhum trabalho de Moebius, eu recomendo que leiam a sensacional Surfista Prateado Parábola, obra que Moebius fez junto com Stan Lee. Nessa obra fica fácil de perceber o estilo gráfico e narrativo do autor, que sempre nos encanta com painéis e desenhos diferenciados.
Apesar do roteiro não ser de Moebius, vale ressaltar que O Incal tem uma pegada filosófica que é bem mais carregada do que a que vemos na obra da Marvel Comics – que figura na nossa lista de Melhores HQs da editora.
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Me arrisco a dizer que se a obra da Casa das Ideias não te agradar, é possível que O Incal também não te encante. Para o bem do seu bolso, se você nunca teve contato com nada dos autores, busque essa HQ da Marvel antes de decidir se vai adquirir O Incal ou não.
Outro ponto importante para os que estão pensando em comprar a obra é a temática. Muita gente fala que a obra é genial, mas poucos destrincham um pouco mais sua trama.
De maneira simplória podemos dizer que a obra acompanha a história de John Difool, um detetive classe “R” que se mete em uma confusão após ter – acidentalmente – em suas mãos algo chamado Incal. A tal peça logo mostra ser um item de desejo de muitos e vemos a vida do detetive ser virada do avesso por conta disso.
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Incal possui muitas passagens filosóficas que podem não agradar aos leitores que querem uma obra voltada mais para ação
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Antes de falarmos do volume gigantesco de ficção científica densa e um tanto lisérgica em alguns momentos – especialidade do autor Alejandro Jodorowsky -, vale dizer que Moebius é extremamente hábil ao iniciar a HQ com uma pegada de ação intensa.
Nas primeiras 30 páginas da história vemos John Difool chegar perto da morte algumas vezes – tudo isso com muitas sequências de ação que são verdadeiras pinturas.
No entanto, o que começa como uma obra acelerada de ficção científica “comum”, logo mostra que é muito mais do que aparenta quando o pássaro do detetive, o Deepo, engole o Incal e começa a filosofar e realizar pequenos milagres. Ali fica claro que o tal item passa longe de ser apenas uma “tecnologia de ponta”.
Toda essa ação desenfreada começa a tomar rumos diferentes e mergulha cada vez mais no absurdo, quando o Metabarão aparece. O personagem, uma espécie de matador de aluguel, é contratado pelo presidente para matar John Difool e recuperar o Incal.
Enquanto a obra se desenrola, temos a entrada de diversos personagens marcantes e únicos na trama e cada um deles traz toda uma mitologia ao redor de si. É a partir daí que a obra, talvez, afaste alguns leitores.
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John Difool é empurrado da Alameda do Suicídio para o Lago de Ácído logo no começo da HQ Incal de Jodorowsky e Moebius
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Desde o começo, O Incal pega pesado na ficção científica: carros voadores, armas espetaculares, aliens de todos os formatos, construções “humanamente impossíveis”, planetas que misturam tecnologia com elementos orgânicos, rituais de acasalamento com entidades e mudanças de corpo… elementos que são vistos durante toda a leitura e que são marca registrada do sci-fi de Jodorowsky.
A questão é que a partir do segundo livro, O Incal Luz, temos a introdução de diversos conceitos diferentes e a obra pode ser um pouco confusa para alguns. Se você não estiver disposto a abraçar ideias que pareçam “loucas” em um primeiro olhar, a leitura pode te perder e se transformar em um martírio.
Me arrisco a dizer que Jodorowsky escreveu uma HQ que é um verdadeiro deleite para os fãs hardcore de ficção científica. Carro voador é “besteira” perto do que vemos na HQ que faz questão de levar os conceitos apresentados ao extremo! Se você busca algo “pé no chão”, O Incal não vai te agradar…
Além disso, vale salientar que o volume de balões, diálogos e elementos por página é enorme. Isso passa longe de ser um problema, a não ser que você esteja buscando uma leitura mais casual, simples e sem muita profundidade.
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John Difool passa por situações inacreditáveis na HQ Incal de Jodorowsky e Moebius
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Vale a pena ler O Incal? – Veredito
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Jodorowsky, o chileno nascido em 1929 e Jean-Giraud, mais conhecido como Moebius, o parisiense nascido em 1938, são sem sombra de dúvida dois dos grandes mestres da nona arte.
O primeiro, diretor, ator, produtor, roteirista, poeta e psicólogo domina a arte narrativa e a “viagem” imaginativa como raros outros criadores jamais fizeram. O segundo, escritor e desenhista, domina sua arte em um nível extremo, imitado por nomes como Simon Bisley e Geoff Darrow, com enquadramentos e painéis que encantam de uma forma que poucas vezes vemos.
O que precisamos pensar aqui é no famoso “gosto do leitor”. Eu, particularmente, sou um fã de O Incal. A obra dialoga comigo justamente porque sou um leitor assíduo de HQs e sou um fanático por ficção científica.
No entanto, os leitores que não estão acostumados com uma ficção científica que foge do tradicional e que ainda estão iniciando a caminhada no mundo das HQs podem achar a obra chata, pesada, extensa.
E não é nenhum pecado dizer isso. Temos que parar de tratar os quadrinhos – mesmo os geniais – como algo acima de críticas e que devem ser admirados por todos. Tudo bem não gostar de ficção científica e tudo bem não se sentir atraído por O Incal.
De forma similar, no cinema temos os filmes de Werner Herzog, por exemplo: obras-primas da técnica e da narrativa cinematográfica, mas que podem ser de consumo dificílimo para a maiorias dos espectadores.
No fim das contas, acreditamos sinceramente que o leitor deve investir seu tempo e dinheiro naquilo a que se sente atraído. Gostos mudam com o tempo e a vivência, com a mudança de nossa maturidade enquanto leitor.
Minha sugestão? Pesquise, veja vídeos e entenda a história antes de decidir. Quem manda na sua pilha de cabeceira é você.
Quer conhecer quadrinhos nacionais de qualidade? Confira nossa seção sobre o tema e não deixe de ver a nossa lista de 20 grandes quadrinistas nacionais!
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Créditos:
Texto: Lucas Souza
Imagens: Reprodução
Edição: Alexandre Baptista
Matéria publicada originalmente em 05 de fevereiro de 2021.
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