O que pode haver em comum entre personagens tão distintos como Homem-Aranha, Batman, Frodo, Harry Potter, Kamala Khan (Ms. Marvel), Mulher-Maravilha e Superman? Apesar das diferenças, todos estes personagens perpassam por caminhos que os tornam mais fortes e resilientes para superar desafios e, assim, conquistar seu lugar no mundo nerd – mas não só!
As estruturas da narrativa heróica encontradas em lendas, histórias e fábulas funcionam como arquétipos de indivíduos presentes na sociedade (ou seja, nós mesmos, só que em metáforas) e é um assunto tanto para fãs do entretenimento puro quanto para aqueles que visam buscar um sentido mais apurado do tema, debruçando-se em estudos, pesquisas e trabalhos acadêmicos.
Autoconhecimento: como a jornada do herói pode ajudar? Joseph Campbell explica!
Campbell dizia: “mitos são histórias de nossa busca da verdade, sentido, significação, através dos tempos. Todos nós precisamos contar nossa história, compreender nossa história; precisamos que a vida tenha significação, precisamos compreender e descobrir o que somos”.
Ressignificando o Herói
A jornada do herói é um conceito desenvolvido pelo mitólogo Joseph Campbell (1904-1987) baseado em estudos sobre mitologia grega e podem ser encontrado nos livros “O herói de mil faces” (Ed. Cultrix, 1989) e “O poder do mito” (Ed. Palas Athena, 2014). Para ele, um herói é definido pelos sacrifícios feitos em nome de um bem maior, podendo ser a conquista de um tipo de sabedoria, iluminação ou conceito abstrato, bem como um objeto, amuleto ou cálice que irá ajudá-lo a libertar seu povo da opressão e tirania.
Em Matrix, o personagem Neo (Keanu Reeves) alcança um estado de concentração notável, libertando-o do domínio das máquinas -transcendência, espiritualidade e ressignificação
Essa narrativa funciona como um dispositivo no qual o sujeito constrói suas próprias representações, permitindo experimentações e vivências através da ficção. Afinal, todas as pessoas possuem sua própria história para contar, então, “precisamos que a vida tenha significação, precisamos tocar o eterno, compreender o misterioso, descobrir o que somos”, disse Campbell em “O poder do mito”.
Ao final da aventura, o herói retorna ao seu local de origem ou terra natal levando consigo o conhecimento, adquirido por meio de etapas (falaremos disso mais adiante), até sua comunidade para que estes também possam viver uma vida melhor – seja do ponto de vista prático, emocional ou até mesmo metafísico. Essa quantidade de elementos, processados no subconsciente dos leitores/espectadores, faz com que a jornada do herói seja tão apreciada entre os fãs – os desafios instigam o público numa busca pessoal por sentido, verdade e ressignificação.
Em O Hobbit, Bilbo Bolseiro atende ao chamado da aventura para experimentar vários desafios pela Terra-Média. Obstáculos que farão dele mais resiliente, confiante e apto para ajudar seu povo
As narrativas heróicas são histórias sobre mudanças, quebras de paradigmas ou, por exemplo, como descobrir que um garoto do interior se torna o ser mais poderoso da Terra e promete defendê-la a todo o custo para sempre; ou uma criança milionária que perdeu seus pais durante um assalto faz uma promessa pessoal de proteger sua cidade natal combatendo o mesmo mal que afligiu sua família no passado; ou, ainda, como um adolescente tímido e sem graça se torna o herói amigão da vizinhança após ser picado por uma aranha radioativa, sendo motivado a proteger a população depois de perder seu tio, morto por um bandido.
Personagens de histórias em quadrinhos, bem como outras mídias, podem ser vistos como arquétipos de nossa própria personalidade e desejos
Tal indivíduo comum e ordinário será o herói de seu mundo, capaz de criar, pensar e ressignificar situações através das metáforas presentes na ficção e intervindo no mundo ao seu redor de maneira transformadora.
Um Ciclo de Etapas
Para alcançar seus objetivos, o herói deve caminhar por etapas que irão conferir-lhe habilidades suficientes para vencer seus desafios, sejam tragédias pessoais, perdas, medos ou fobias, superar limites, adquirir confiança – não importa o desafio, pois, este é específico a cada personagem, inclusive, a nós mesmos.
“Um herói vindo do mundo cotidiano se aventura numa região de prodígios sobrenaturais; ali encontra fabulosas forças e obtém uma vitória decisiva; o herói retorna de sua misteriosa aventura com o poder de trazer benefícios aos seus semelhantes”, dizia Campbell – uma majestosa representação das situações que o herói deve trilhar. O ciclo de fases que tal indivíduo percorre apresenta-se logo abaixo:
- Mundo comum: a rotina do herói, seu dia a dia comum; a introdução da jornada;
- Chamada para aventura: algum evento inesperado e fora do comum acontece e quebra a rotina do herói;
- Recusa ao chamado: nessa etapa, o herói é impedido de se envolver ou decide não participar da jornada, voltando ao seu estado comum;
- O auxílio sobrenatural: o herói encontra um mentor que o convence a aceitar o chamado, dando a ele suporte para transpor os obstáculos por vir;
- Cruzamento do limiar: momento em que o herói adentra em um mundo desconhecido e totalmente novo. Aqui é necessário que o personagem enfrente algum tipo de guardião do limiar entre os dois mundos;
- O ventre da baleia (testes, aliados e inimigos): é o ponto mais longo da travessia, onde o herói será testado, receberá ajuda de outros aliados no percurso e enfrentará seus inimigos. É o momento em que adquire confiança e experiência para cumprir a jornada;
- Aproximação do objetivo: o herói chega perto de cumprir a missão, há tensão e suspense;
- Provação máxima: aqui é o clímax da jornada e o herói enfrenta sua maior desafio – encarar seu maior medo, por exemplo;
- Conquista da recompensa: após a vitória, vem o prêmio, a conquista da meta – obter reconhecimento ou poder;
- Caminho de volta: geralmente, a etapa mais breve da jornada, quando o herói retorna ao seu lar após ter alcançado seus objetivos;
- Morte e ressurreição: ao passar pelo grande desafio final, o herói morre e, eventualmente, ressuscita (tal morte nem sempre é literal, pois pode ser a morte de certos conceitos e atitudes passadas e de outrora. A ressurreição, portanto, pode representar o aprendizado de novos conceitos, transformando-o em um novo homem);
- O retorno transformado: aqui encerra-se a narrativa heróica, momento no qual o herói volta para o lar transformado pelas experiências que viveu e fica evidente que não mais é o mesmo homem de antes e está disposto a compartilhar o conhecimento adquirido em prol da comunidade onde vive.
Uma Fórmula de Sucesso
George Lucas, Stan Lee, J. K. Rowling, Disney, Marvel e DC Comics empregam a fórmula do herói ou monomito exaustivamente em suas obras, quer seja em um mundo de fantasia ou até “baseado em fatos reais”. Não importa o contexto, sempre haverá narrativas que envolvem a superação de determinados limites, fazendo com que personagens outrora desprovidos de valores essenciais se transformem em exemplos de esperança, fé, vitória e sucesso.
Creed e Rocky Balboa: herói e mentor
Tal fato é que filmes, séries, games, animes, mangás, livros e quadrinhos bebem desta fonte inesgotável de narrativas que inspiram a nos tornar melhores em nosso caminho pela vida. Associadas à realidade e contexto de cada um, a jornada do herói pode contribuir para construção e desenvolvimento de identidades e superações de conflitos.
Liga da Justiça: o ápice da jornada heróica
Então, é isso! Nos vemos por aí em nossas jornadas e até a próxima. Caso deseje se aprofundar mais neste tipo de estudo, segue o link de um artigo sobre o tema: Acesse clicando aqui!
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Créditos:
Texto: André ‘Brasuka” Roberto – @Comunicafic
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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