Pondere a seguinte questão: o que aconteceria se a Marvel Studios resolvesse explorar novas realidades, brincar com histórias alternativas ao cânone estabelecido em filmes e séries do UCM e que fossem levemente diferentes do original? Quem sabe, um multiverso de histórias criadas a partir de situações modificadas pelo destino.
Uma ótima oportunidade para trabalhar infinitas possibilidades para os personagens e construir novos contextos. O Ultimato do Bacon assistiu a primeira temporada da produção que viaja pelas linhas temporais do multiverso Marvel e relata como foi a experiência.
What if…? O Começo nos Quadrinhos
“O que aconteceria se…?” (What if…?) é uma antologia de histórias em quadrinhos despretensiosas e desapegadas das amarras cronológicas, uma ideia que remonta à década de 1970/1980 e que trouxe muitas histórias divertidas. O anfitrião que acompanha o leitor nessas viagens narrativas é Uatu, o Vigia – um ser que vive além do espaço, tempo e realidades, observando os vários universos existentes sem interferir nas ações dos personagens.
Uatu, o Vigia em What If…? Ambiguidade na hora de decidir se ajuda ou não aqueles a quem observa
Essas empolgantes aventuras pegavam os personagens da Marvel e reimaginavam conceitos, tramas e cenários – histórias como “O que aconteceria se o martelo de Thor fosse encontrado por uma mulher?” ou ” O que aconteceria se o Capitão América fosse eleito presidente?” trabalhava com fantásticas e engenhosas ideias que tornavam a leitura extremamente divertida.
Vale lembrar que, em algum momento temporal dos quadrinhos, algumas dessas histórias se concretizaram como, por exemplo, Jane Foster que realmente tornou-se Thor no universo regular da Marvel Comics.
Nova Fase
Com o sucesso das séries Wandavision, Falcão e o Soldado Invernal e Loki, a Marvel resolveu explorar e investir no conceito de multiverso nesta nova fase do seu universo cinematográfico.
A série animada brinca com novos conceitos (ok, não tão novos assim) a partir dos enredos originais dos filmes, reimaginando cenários, plots e status quo de vários personagens queridos, dentre eles Pantera Negra, Capitão América (zumbi!!!), Agente Carter e Dr. Estranho – por sinal, um dos personagens que recebe o melhor tratamento na animação.
Dr. Estranho se destaca num dos episódios de What If…? em que todo seu conhecimento e desempenho não são suficientes para salvar seu grande amor
Claro, a série animada não chega com o intuito de reinventar a roda ou mudar a estrutura narrativa já estabelecida. É aquele velho ditado, “em time que está ganhando, não se mexe”, com uma receita infalível que garante um produto comercialmente divertido e rentável sem mudar o cânone. Afinal, a Marvel não quer confundir e afastar o público que segue fielmente o UCM.
Era de Ultron (SPOILERS A SEGUIR! CASO NÃO QUEIRA SABER, PULE PARA O PRÓXIMO TÓPICO)
O que aconteceria se Ultron vencesse? Essa questão é sanada no início do penúltimo episódio, que apresenta os impactos da vitória da inteligência artificial sobre Uatu, o Vigia.
O robô sentiente consegue, enfim, realizar seu grande plano de dominação, isto se levar em consideração que tal fato não consolidou-se no distante filme de 2015 – agora, o vilão busca uma versão de mundo pós-apocalíptico distópico multiversal.
Ultron Infinito e seu empoderamento total ao reunir as Jóias do Infinito numa das várias realidades paralelas de What If…? Epifania e poder
Após vários episódios aleatórios, aparentemente desconexos, a série passa por uma reviravolta em seus dois últimos episódios com um tremendo plot twist de tirar o chapéu! Em What if…?, o Vigia quebra seu juramento de não interferência nas realidades e recruta vários heróis de mundos paralelos distintos para formar os Guardiões do Multiverso, uma equipe que deve encarar o desafio de vencer um Ultron empoderado e supremo com as Jóias do Infinito cravadas em sua armadura.
O vilão diz, em certo momento, “o Vigia não avisou vocês? Cada universo é diferente, cada um é apenas uma fração única e, assim, as Jóias do Infinito são únicas.” Ultron derrota uma versão do Thanos de uma realidade alternativa e toma para si a Jóias do Infinito, tornando-se o senhor supremo do tempo, espaço e realidades.
E após também vencer o Vigia, numa sequência formidável de lutas atravessando as realidades do multiverso e fragmentando seu frágil tecido no processo, o robozão tem um momento de epifania e acredita que a paz só poderá ser alcançada mediante a dominação de todas as realidades multiversais.
A derrota de Uatu, o Vigia pelas mãos de Ultron Infinito tem consequências desastrosas para todo tecido da realidade multiversal
Ultron, de fato, possui um papel importantíssimo em What If…?, sendo o grande nêmesis da história, que transforma meros episódios insossos e inconclusivos em algo maior, numa reviravolta digna de aplausos e que consegue conectar todos os demais episódios, dando um propósito mais relevante ao todo.
Sedimentação de Idéias
What If…? começa sem sentido e sem propósito, apenas uma diversão efêmera que surfa numa ideia oriunda dos quadrinhos, reimaginando realidades diferentes do habitual em seu universo cinematográfico e televisivo.
Analisando em retrospecto, desde o começo do assim chamado UCM em 2008 e o surgimento do primeiro filme do Homem-de-Ferro, a animação poderia ter se saído melhor ao desenvolver narrativas ousadas e romper paradigmas dos cenários infinitos.
Tempo, espaço e realidades são os destaques de What If…?
Aplicando a velha fórmula repetida exaustivamente no cinema e televisão, com vários detalhes criados para impressionar os fãs – ação sem limites, porradaria e frases de efeito que viram memes na primeira oportunidade – a Marvel não chega nem perto de revolucionar o status quo do UCM.
Mas, com certeza, cria um ambiente didático de sedimentação para que o público possa se familiarizar com o conceito de realidades paralelas e multiverso (tanto Homem-Aranha quanto Dr. Estranho, em seus respectivos filmes, irão se aprofundar mais nessa temática).
Originalmente, o conceito de “O que aconteceria se…” materializou as ideias mais malucas e divertidas dos quadrinhos Marvel sem se preocupar com amarras cronológicas e afins.
Porém, no audiovisual, a primeira temporada apenas redistribui papéis e dinâmicas de personagens no UCM – talvez, por receio de mudar o cânone estabelecido e confundir o público, a Marvel acaba desperdiçando uma enorme chance de fazer algo tão brilhante quanto os demais filmes de sua galeria de sucessos.
Personagens se destacam em What If…?
Por outro lado, talvez a produção não quisesse realmente chutar o balde e, simplesmente, pensou em sedimentar o conceito de multiverso na mente dos fãs de uma maneira mais palatável. Particularmente, ao invés de expandir o universo cinematográfico e televisivo com maestria, a série animada se perdeu em meio a episódios que ficam em aberto, inconclusivos ou personagens irritantes, como no caso do Thor baladeiro.
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Avaliação: Regular!
Créditos:
Texto: André ‘Brasuka” Roberto – @Comunicafic
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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