Um oceano de amor de Wilfrid Lupano e Grégory Panaccione (2022) – O Ultimato

Em 8 de Set de 2022 • 5 minutos de leitura
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Conheça a HQ muda que leva um casal da tradicional costa bretã para alto mar em: Um oceano de amor.

Em 2022, a editora Mino trouxe Um oceano de amor ao Brasil, HQ muda francesa vencedora do prêmio BD Fnac France Inter em 2015 e indicado a três prêmios Eisner.

A obra saiu originalmente sob o título Un océan d’amour em 2014, com 224 páginas em capa dura – na edição nacional é cartonada –, pela editora Delcourt.

Os autores são Wilfrid Lupano, responsável pelo roteiro em seu primeiro exercício com quadrinhos mudos, e Grégory Panaccione, artista que já havia criado Toby mon ami (2012) e Âme perdue (2013), ainda sem publicação por aqui. Ambos franceses.

Qual é a trama de Um oceano de amor?

Antes de o dia amanhecer na Bretanha, França, um pequeno marinheiro de óculos fundos e cabelos brancos, Monsieur, acorda para trabalhar. A dedicada Madame prepara o café da manhã e o auxilia até o momento da despedida. Um casal à moda antiga, onde a esposa cuida da casa e o marido vai para o mar.

Monsieur e o ajudante não estão com sorte. Nada além de gaivotas aparece. Eis que surge Goldfish, barco de pesca industrial gigantesco. Aparentemente, com redes de igual tamanho, é o responsável pelo sumiço dos peixes.

A diminuta embarcação, batizada de Maria, não tem fôlego para sair de seu caminho e é tragada por Goldfish em meio a milhares de peixes e gaivotas.

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Monsieur, Maria e o atrapalhado parceiro zarpando na madrugada

O bote salva-vidas é liberado por Monsieur para resguardar o jovem marujo. O idoso se mantém no barco, procurando ajuda pelo rádio. Pouco depois, ele se solta, mas perdido e fora de curso.

No continente, Madame encontra o parceiro do marido. Com o nome do navio em mãos, faz uma busca por meio da administração do cais, que contata o Goldfish, mas os tripulantes não encontram Maria.

As outras bigoudènes, como se chamam as mulheres naquela região, parecem clamar mensagens de mau agouro, como se Madame não devesse ter esperanças na volta do marido. Mas ela prefere tentar a sorte em uma vidente, que indica que o idoso irá para Cuba.

É a partir de então que o roteirista inverte os rumos da trama e Madame gasta suas economias com passagens para o Caribe em um navio turístico. Enquanto isso, o velho navegador faz amizade com uma gaivota – única companhia durante o isolamento, funcionando como dupla cômica – e come sardinha enlatada.

Madame vira protagonista e acompanhamos a aventura dela conhecendo o mundo. Mais do que isso, descobrindo do que é capaz em nome de seu amor. A foto do dia do casamento está sempre com ela.

Assim, seguimos com uma trama dupla: as de Monsieur e de Madame, com encontros e desencontros, piratas, tempestades, naufrágios, o regime cubano, prisões…

Vale a pena ler?

É incrível pensar que por todos os continentes este mesmo quadrinho, sem necessidade de tradução, pode ser entendido em uma linguagem universal.

Um dos responsáveis, sem dúvidas, é Panaccione, que além de entregar beleza orgânica em sua arte, é exímio em desenhar expressões tanto de humor quanto dramáticas – estas com toque tragicômico –.

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O acidente entre as embarcações Maria e Goldfish definirá todos os acontecimentos seguintes da HQ

De acordo com o roteirista, Wilfrid Lupano, as duas principais inspirações foram Odisseia (século VIII AEC), de Homero, e O Velho e o Mar (1952), de Ernest Hemingway.

A grande brincadeira em relação a clássica obra grega é que, ao contrário de Penélope, que aguardou passivamente a volta de seu rei, a Madame de Lupano ganha protagonismo e participa de toda a trama, tornando a HQ criativa e divertida.

O autor também lida com bom humor nas difíceis questões do regime cubano e dos problemas marítimos, sobretudo os ecológicos: pesca predatória, derramamento de óleo e poluição plástica, que forma continentes flutuantes e mata milhares de animais. Tudo isso, porém, ocorre de maneira natural.

A cultura bretã, peculiar, é outro destaque. Isso é visto nos coiffe bigoudène – espécie de chapéu que as mulheres usam com roupas típicas –, na fé – forte influência católica –, e na herança pesqueira. Ou seja, Um oceano de amor mescla o retrato da tradição com importantes questões dos dias atuais, bem como os impactos de um sobre o outro. Sem maniqueísmo.

Ironicamente, o navio-fábrica engole o pequeno pescador. Mas já não fazem isso ao acabar com sua subsistência? Por outro lado, Madame se safa de maiores problemas em Cuba, país famoso pelas dificuldades com a internet, por algo diretamente ligado a ela – e não darei spoiler sobre isso –.

Tudo sem uma palavra sequer. Nem onomatopeias. Um exercício de criatividade e sensibilidade para os autores com ótimo resultado para quem lê. Um oceano de amor é uma história de descobertas, contrastes e aventuras em alto mar. Mas, essencialmente, sobre amor.

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Avaliação: Excelente!

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Créditos:
Texto: David Horeglad – @hq_ano1
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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