Uma história clássica do Superman criada no final da década de 1980, Os ladrões da Terra (The Earth Stealers), foi escrita por John Byrne durante sua áurea fase de reestruturação do Azulão no pós-Crise nas Infinitas Terras.
Byrne é um grande fã do Superman e isso aparece em histórias como esta que, junto a Curt Swan e Jerry Ordway, nomes de peso envolvidos na trajetória do super-herói, colocam Kal-El frente a um desafio de proporções gigantescas, abordando temas como ecologia e o valor da vida.
Sequestro De Um Planeta, Humanidade e Existencialismo
Um grupo misterioso rasga o tecido do espaço, lançando mão de um maquinário que rouba a Terra e a Lua de sua órbita, sendo rebocadas para uma espécie de usina de processamento ou refinaria nos confins da galáxia. Ali, o planeta será dissecado e seus recursos naturais utilizados para a manutenção do status quo de outros sistemas.
Os vilões vagam em sua nave espacial pelo sistema solar e roubam o planeta Terra e a Lua de sua órbita, afinal, “clientes anseiam pelos muitos recursos naturais do seu planetinha altamente insignificante.”
É evidente que Byrne tentou se aproximar de temáticas ecológicas, existenciais e não apenas trazer uma aventura qualquer entre mocinho e bandidos.
As HQs, durante a década de 1980, começavam a trilhar uma jornada mais existencialista e adulta a partir da chegada de autores emblemáticos como Grant Morrison (Patrulha do Destino) e Alan Moore (Monstro do Pântano), que acrescentaram muitas camadas em suas histórias.
A temática sobre recursos naturais, no entanto, fica apenas nas palavras e carece de algo mais encorpado e contundente. É entendível, claro, que se trata de uma história maisntream e que a atenção esteja voltada para ação e aventura.
Os vilões, por mais genéricos que sejam, conseguem fazer um bom paralelo com o que acontece ao planeta Terra neste exato momento – queimadas, desmatamento, derretimento das calotas polares e outros ataques à natureza em prol do “progresso mundial” (diga-se, ganância).
A Terra e a Lua sequestradas por um tipo de coletor planetário que consome os recursos naturais e seres vivos para servirem de combustível aos demais sistemas da galáxia. Ganha quem pagar mais!
Aliás, um ponto interessante a ser visto são os discursos acalorados entre Superman e o capitão da embarcação pois, para o vilão, “nós todos somos nada, no grande esquema das coisas; nós todos somos poeira.” Tal fala possui enorme força poética e existencial, da qual Jean-Paul Sartre (1905-1980) é o principal representante do existencialismo francês.
Basicamente, uma análise do ser humano em sua essência e consciência de si que, para Sartre, torna-se tão profunda que faz com que a humanidade sinta-se livre para fazer o que desejar de suas vidas sem prestar contas a ninguém, afinal, “não somos aquilo que fizeram de nós, mas o que fazemos…”
Voltando à narrativa de Earth Stealers, o vilão não precisa prestar conta de seus atos e palavras a ninguém, por isso toma suas decisões sem sentir fardo na consciência – afinal, a humanidade é apenas utilitária aos desejos capitais, segundo ele.
História Divertida, Mas Que Faltou Aquele “Tchan”
A partir de uma visão crítica e construtiva da história, percebe-se que faltou ao Byrne encontrar uma maneira melhor de provar que a Terra e sua população são importantes para a galáxia para, assim, fazer a analogia perfeita com a crise existencial, moral, ética e ambiental que vive-se atualmente, não deixando o leitor com aquele gosto amargo de um genocídio ou extinção em massa por simples desapego.
Até metade da narrativa, Os Ladrões da Terra abarca conceitos interessantes, porém, os mesmos carecem de uma maior explanação, pois sente-se que as resoluções encontradas durante o ato final da história são apressadas e sem a devida profundidade.
Superman vs Gunge, o gladiador: o destino do planeta será decidido por punhos e não por argumentos
O destino da Terra é decidido numa luta entre Superman e Gunge, um gladiador genérico numa arena tecnológica para decidir se o planeta e a humanidade são dignas de sobrevivência – diálogos e argumentações não são mais suficientes.
O tempo está contra o herói que, ainda deve salvar seus amigos Jimmy Olsen, Perry White e Lois Lane das mãos do capitão, que retira a força vital deles para aplicar em Gunge.
Se Você é Fã, Vale a Pena Ler
Ecoando temas atuais, o enredo de Ladrões da Terra oferece uma narrativa simples, aos moldes de épocas mais pueris da Era de Ouro dos quadrinhos, onde a ordem do dia é diversão e leitura rápida.
Porém, por estar localizada entre o final da década de 80 e início de 90, temos a oportunidade de ler uma história que se preocupa em mostrar algo além do mero entretenimento.
John Byrne é um grande fã do Superman, sem dúvidas, sua fase à frente do personagem é vista pela maioria dos leitores como uma das melhores – se não a melhor.
Muitos roteiristas vieram a seguir e pegaram suas bases para elaborar novos conteúdos relevantes sem deixar de lado os aspectos que humanizaram o personagem.
Se você é fã de longa data do Superman e se identifica com seus ideais de justiça e liberdade, terá uma boa leitura pela frente. Caso não seja seu caso, saiba que existe um valor intrínseco no personagem que geram boas discussões e faz com que os leitores formem opiniões a respeito.
Você encontra Os Ladrões da Terra (The Earth Stealers) em A Saga do Superman – volume 14 distribuído pela editora Panini Comics e não é necessário estar antenado com a cronologia.
Leiam, também, as fases de Dan Jurgens, Peter Tomasi, Brian Bendis e tirem suas próprias conclusões. Uma coisa é certa: o fato de que Kal-El estará sempre adiante travando o bom combate em prol da humanidade que o adotou, salvando o dia. Para o alto e avante!
Curte Superman? Não deixe de conferir nossa review de Superman- Exilado no Espaço e Superman – As Quatro Estações.
Avaliação: Bom!
Compre Superman Os Ladrões Da Terra clicando na capa abaixo! .
Créditos:
Texto: André ‘Brasuka” Roberto – @Comunicafic
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
Compre pelo nosso link da Amazon e ajude o UB!