Sonhonauta (2022) – O Ultimato

Em 17 de Jun de 2022 • 5 minutos de leitura
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Sonhonauta (2022) é um quadrinho de Shun Izumi cujo tempo de produção foi cerca de 12 anos, lançado em 2022 pela editora Conrad, 320 páginas, P&B. Dentre as particularidades do álbum, lançado originalmente em capítulos digitais, está que Izumi inspirou-se em suas próprias viagens oníricas para criar as dezenas e dezenas de sonhos do protagonista, formando, ao fim, um roteiro fechado.

A arte teve as mais diversas técnicas e experimentos feitos no decorrer dos anos, algumas da cabeça do autor, como desenhar com a mão esquerda e arte-finalizar com a mão direita e vice-versa. Ele não é ambidestro. Os materiais usados também foram variados, de nanquim a canetinhas coloridas, além de computação gráfica, apesar de a edição manter sempre o preto e branco.

Qual é a trama de Sonhonauta?

O impactante início da obra retrata um sonho de Mendel em que uma bela mulher é assassinada por um homem que a ataca com uma chave de boca. Os protagonistas da cena são, em alguns quadros, substituídos por personagens de animação que parecem emular estilos como os do Mickey e seu vilão, Bafo de Onça, um pouco mais sacanas.

Mendel acorda com intensa dor de cabeça e começa a refletir sobre a relação que ele tem com os próprios sonhos. Para não os esquecer, anota todos em um caderno. E dá para ver que o personagem, além de perturbado, abusa de remédios.

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O primeiro sonho de Mendel mistura animação com realidade, de onde saem todas as investigações futuras

Tempos atrás, relata, ao sonhar que uma amiga de infância contou que sua mãe a abusava psicologicamente, acabou fazendo contato com ela. Descobriu que a matriarca morreu de câncer na mesma época em que teve o sonho.

Pouco depois, ele sonha com a mesma bela mulher do início da HQ. Mas desta vez, um primeiro encontro entre os dois, em um bar na Irlanda. Uma briga com um pirata que a abordou fez com que Mendel acordasse agitado sem ao menos ter a chance de perguntar o nome dela.

O espírito de investigação entre a vida real e os sonhos de Mendel começam em um tom que seguirá por boa parte de Sonhonauta. Qual o nome da dama? É só em outro sonho que ele descobre, Naíssa, após uma noite de amor. O personagem se vê apaixonado pela mulher de seus sonhos e quer encontrá-la na vida real. O objetivo é salvá-la do homem da chave de boca e poder viver seu amor.

Em outro sonho, uma misteriosa cartomante revela que ele deve “voltar para o passado, vislumbrando sua juventude.” Em seguida, tira a carta “O Eremita”, indicando que seu caminho é obscuro e requer prudência. Quando acorda, com alguma dificuldade, Mendel lembra que deixou escondida atrás de um azulejo do banheiro uma caixinha com seus tesouros da infância.

Lá estão figurinhas da copa, carrinho, bolinha de gude e outras bugigangas. Entre elas, algo inesperado: uma foto dele, já adulto, com a mulher de seus sonhos.

Por meio da imagem, o protagonista vê que o encontro foi em uma casa noturna chamada Baccio, que ele frequentava. É nesse ritmo que muitas coisas acontecem. Dois personagens misteriosos aparecem para ajudar, Ilíade e o Homem Milenar. Sonho e vida real finalmente se cruzam e Mendel vai seguindo pista por pista para salvar sua amada e poder viver um final feliz.

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Cada sonho é desenhado com uma técnica. A mudança de uma para outra acompanha o roteiro

Vale a pena ler?

Se a proposta, a forma de produção e as experimentações de Shun Izumi já tornam Sonhonauta uma HQ interessante e curiosa para o leitor, o roteiro, necessário dizer, é bem encaixado, misterioso e atraente.

Em boa parte, viajamos pelo onírico e em determinados momentos temos dificuldade de saber a fronteira entre sonho e realidade. Na verdade, estamos entrando na própria loucura do protagonista, Mendel.

Essa sensação é muito bem orquestrada por Izumi. As reviravoltas e descobertas mais para o final explicam de forma divertida e perturbadora – sim! – o emaranhado de sonhos que acompanhamos por tanto tempo – por mais de 200 páginas! –. Não dá, porém, para deixar qualquer pista aqui, para não estragar a experiência da leitura.

Izumi buscou utilizar ao máximo os recursos que apenas esta mídia – a nona arte – lhe traz. As mudanças na técnica do desenho, por exemplo, dialogam com os momentos da história, como quando Mendel toma um punhado de pílulas para dormir. O protagonista, desenhado a lápis, ao ir perdendo a consciência, vai mergulhando em uma espécie de linha imaginaria de tensão superficial que o leva para o sonho. Este, já desenhado a tinta.

Sonhonauta é um quadrinho essencial para os fãs da nona arte, pela proposta diferente que, com criatividade, Izumi conseguiu colocar no papel. Provavelmente será listado entre os melhores do ano.

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Avaliação: Excelente!

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Créditos:
Texto: David Horeglad – @hq_ano1
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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