Roses N’ Guns de Gabriel Arrais e Thiago Ossostortos – O Ultimato

Em 10 de Mar de 2023 • 5 minutos de leitura
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Conheça a HQ à brasileira para quem curte os filmes do Tarantino em: Roses N Guns de Gabriel Arrais e Thiago Ossostortos

“Se Tarantino e Angeli ficassem bêbados, transassem e tivessem um filho, seria um monstro talentoso de duas cabeças chamado Arrais e Ossostortos, e isso é razão suficiente para você ler Roses N’ Guns agora!”, salienta o quadrinista Guilherme de Souza na quarta capa da obra.

Nessa frase maluca está uma boa síntese de Roses N’ Guns, lançada no fim de 2022 pela editora RQT Comics, 100 páginas, P&B. Basta imaginarmos os detalhes e referências da cultura pop e a descentralização de protagonistas que costumam se cruzar em filmes de Quentin Tarantino sendo trazidos para o recorte urbano, sujo e boêmio do sudeste brasileiro, de “gente” como Bob Cuspe e Rê Bordosa.

Isso ocorre mais especificamente nos bairros de São Paulo e do ABC Paulista, onde Gabriel Arrais e Thiago Ossostortos, respectivamente roteirista e ilustrador, nasceram e cresceram. A época também é importante, os anos 1990 sempre espertamente retratados por Ossostortos em obras como Kombi 95 (2017) e Mamonas Assassinas: A Graphic Novel Oficial (2021).

Qual a trama de Roses N’ Guns de Gabriel Arrais e Thiago Ossostortos

Em Roses N’ Guns, as “rosas” são várias. Rosana, Rosely, Rose, Rosa, Rosemary… A arma é uma só, “A Ramba”, e vai passando na mão da maior parte dos personagens como linha de condução.

Temos ainda dois tempos. Os anos de 1999 e de 1989, este por meio de flashbacks. O mais antigo, sempre em traços menos nítidos e mais oníricos. O principal tem linhas bem definidas, embora soltas, ao estilo autoral de Ossostortos. Junto das texturas de retículas e época da história, acabam dando um ar noventista à arte.

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No enredo, o policial Theodoro, de Santo André, com hábitos que a moral tende a condenar, morre em 1989 de forma misteriosa para nós, leitores. Dez anos depois, 1999, seu filho Rodrigo é formado na Escola Militar do Estado de São Paulo.

O parceiro de Theodoro, subtenente Cintra, é quem apadrinha o jovem agente público e lhe presenteia com A Ramba, arma com que o pai “ajudou a tornar o mundo um lugar melhor.”

A entrega ocorre em uma casa de entretenimento adulto que parece não animar muito Rodrigo. Rapidamente, ele pega a pistola e vai embora em seu carro. Para em um cruzamento onde prostitutas oferecem serviço de um lado e travestis de outro. O militar escolhe a segunda opção, “completinha”.

Após Rodrigo tentar uma carteirada e não pagar pelo serviço, a travesti Rosa rouba a antiga arma e foge. O problema é que Cintra está organizando um esquema de assassinato e a única arma fria que o grupo de policiais têm é A Ramba, e o novato precisará encontrá-la de qualquer jeito.

Ao mesmo tempo, três amigos – Nheta, Mosquito e Patrick – planejam assaltar uma videolocadora de Santo André. Para isso, precisarão trocar um Super Nintendo por um trabuco no centro de São Paulo.

É previsível qual arma chegará nas mãos deles, mas não o caminho dela até lá. A HQ dará mais voltas que o esperado até ligar todos os pontos.

Vale a pena ler?

Gabriel Arrais abre o leque do enredo com diversos personagens e tramas. Mas o tecido costurado é um só, encaixando detalhadamente toda a história. Concluir a leitura e ver isso, fechar os quebra-cabeças, é o arremate perfeito.

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A arte de Ossostortos é autoral e divertida, sempre experimentando algo novo, seja nos pincéis digitais ou composição de páginas. As referências dos anos 1990, algo que vemos nostalgicamente desde Kombi 95, estão ali igualmente bem colocadas.

O conhecimento de época e lugar dos dois autores torna a HQ verossímil, apesar da considerável insanidade do roteiro. As referências vão desde os filmes O Rei Leão (1994) e Matrix (1999) até aquelas que provavelmente apenas quem cresceu na década notará, como o boné da animação d‘Os Super Patos (1996-1997) da Disney.

Nos eventos de Roses N’ Guns revemos itens como os VHS e orelhões, além de lugares como a emblemática estrutura do Moinho São Jorge, empresa alimentícia de Santo André, hoje fechada, entre a Av. dos Estados e a linha de trem da CPTM, o Sambódromo do Anhembi, a estação da Luz e os prédios pixados e abandonados do centro de São Paulo.

Diferente de Kombi 95, na mesma região e década, Roses N’ Guns é para maiores de 18 anos, com humor ácido e cenas de sexo e violência. Todas contribuem para o clima e desenvolvimento do enredo.

A linguagem de cada tribo urbana – jovens, policiais, travestis – também é algo bem trabalhado no quadrinho e merece destaque. Pensando nisso é legal notar que, na HQ, existem vilões, entretanto nenhum dos elegíveis a herói é perfeito. Pelo contrário, estão todos, de alguma maneira, entre os marginalizados.

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CHAPA QUENTE (2022) – O ULTIMATO

SONHONAUTA (2022) – O ULTIMATO

MAMONAS ASSASSINAS: A GRAPHIC NOVEL OFICIAL (2021) – O ULTIMATO

Avaliação: Excelente!

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UB RG 4 CAPA Roses N' Guns


Créditos:
Texto: David Horeglad – @hq_ano1
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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