Quadrinhos e Relevância Sociocultural

Em 14 de Mar de 2021 • 5 minutos de leitura
QUADRINHOS E RELEVÂNCIA SOCIOCULTURAL

Os quadrinhos são apreciados por uma grande parcela de indivíduos que consomem, colecionam e se identificam com essas obras – afinal, as aventuras contidas nos gibis, com heróis, anti-heróis e vilões com apelos emocionais e dramáticos ultrapassam as complexas linhas do bem e do mal e despertam a empatia dos leitores. Relevância Sociocultural

Este tipo de leitura (um dos poucos gêneros que unem textos e imagens de forma simbiótica) causa impactos sociais relevantes devido a seus conteúdos, permitindo o uso da imaginação para viajar em jornadas de descobertas, aprendizagem, produção e reprodução de sentidos que despertam novas percepções, interpretações e subjetividades.

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A Relevância Sociocultural dos Quadrinhos

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Preconceito

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No entanto, Waldomiro Vergueiro e Paulo Ramos, no livro Quadrinhos e Educação: da rejeição a prática (2009), expõem que “houve um tempo, não tão distante, em que levar quadrinhos para a sala de aula era motivo de repreensão por parte dos professores. Tais publicações eram interpretadas como leitura de lazer e, por isso, superficiais e com conteúdo aquém do esperado para a realidade do aluno. Dos argumentos utilizados, havia desde preguiça mental nos estudantes e afastamento da chamada boa leitura.”

Educadores do passado atribuíram valores pejorativos aos quadrinhos, acreditando serem prejudiciais para aprendizagem, apresentando violência gratuita, além do receio de que crianças e adolescentes pudessem imitar as condutas dos personagens, incitando a prática de crimes e perturbando a mente do leitor ao ponto de não saber distinguir a realidade da fantasia, alienando-o completamente.

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QUADRINHOS E RELEVÂNCIA SOCIOCULTURAL

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Frederic Wertham (1895-1981), psiquiatra, propagou ideias negativas acerca do viés dos quadrinhos no livro A sedução do inocente (1954) em que descrevia os efeitos nefastos que, segundo ele, os quadrinhos causavam na vida das crianças. Afirmava que quem lia quadrinhos possuía distúrbios comportamentais e desajustes sociais. Tal movimento despertou no Congresso norte-americano e na figura emblemática do senador Joseph McCarthy uma perseguição contra aquilo que pudesse ofender ou ferir a moral, costumes e valores estadunidenses.

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Aceitação

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Como todo bom personagem de ficção que enfrenta adversidades e vence no final, os quadrinhos tornaram-se admirados pela sociedade, sendo vistos em vários produtos cada vez mais acessíveis – desde lancheiras, mochilas e cadernos até filmes, séries, games e literatura. E, claro, dentro das universidades, houve maior aceitação e credibilidade através de pesquisas, teses e dissertações que percebem neste universo ficcional um recurso sociocultural poderoso que analisa as complexidades humanas e suas vicissitudes através de cenários, personagens e contextos que remetem a metáforas ou analogias do mundo real.

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Acredita-se na potencialidade dos quadrinhos acrescentarem características relevantes ao leitor, fazendo-o refletir sobre aquilo que é visto e reproduzido na sociedade. Afinal, com uma linguagem que associa escrita e imagem, as HQ´s abordam temas que proporcionam discussões sobre vários assuntos como injustiças sociais, política e religião. A ficção e o imaginário, presentes nas histórias, entrelaçam a própria experiência humana – na leitura de mitos, contos, lendas, romances – em que se abrem dimensões de espaço/tempo, entre histórias paralelas ao mundo crível que possibilitam a construção do pensamento humano.

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QUADRINHOS E RELEVÂNCIA SOCIOCULTURAL

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“A literatura, sob todas as suas formas (mitos, lendas, contos, poemas, romance, teatro, diários, quadrinhos, livros ilustrados, ensaios), fornece um suporte notável para despertar a interioridade, colocar em movimento o pensamento, relançar a atividade de simbolização, de construção de sentido e incita trocas inéditas”, argumenta Michèle Petit, em A arte de ler (2009). Prova disso, é que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s – Brasil) sugerem a categorização dos quadrinhos como gênero literário, pois são constitutivas da literatura geral e oferecem aos leitores um suporte midiático de articulação de texto, literariedade e produção de sentidos humanizados.

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Cidadão Comum: O Herói do Seu Mundo

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Umberto Eco, certa vez, disse: “numa sociedade particularmente nivelada, onde as perturbações psicológicas, frustrações e complexos de inferioridade estão na ordem do dia; em uma sociedade industrial onde o homem se torna número numa organização que decide por ele; em uma sociedade assim, o herói deve encarnar, além de todo limite pensável, as exigências de poder que o cidadão comum nutre e não pode satisfazer”.

Este cidadão comum é o herói de seu mundo, capaz de criar, imaginar, pensar e interpretar situações através das metáforas presentes nos quadrinhos, organizando informações e intervindo no mundo de maneira transformadora.

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QUADRINHOS E RELEVÂNCIA SOCIOCULTURAL

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Alguns motivos para considerar os quadrinhos como fonte de descobertas são: a) fonte de informação possível a uma parcela da população que sempre esteve distante das informações; b) mensagens veiculadas pelas mídias que contribuem para a formação intelectual do público e c) elemento unificador da intersubjetividade dos diferentes grupos.

Quadrinhos devem ser levados em consideração não apenas como entretenimento, mas, sobretudo, como forte elemento constitucional das humanidades. Sua leitura dá vazão à subjetividade, possibilitando pintar um determinado lugar emocional, transparecer tonalidades afetivas mais ou menos fortes ou simplesmente afrouxar alguns nós inconscientes, tecendo sentimentos e remendando relações.

Por fim, Will Eisner (1917-2005) acrescenta que os quadrinhos são “uma forma de arte relacionada ao realismo, porque se propõe a contar histórias” e estas são capazes de provocar várias sensações no leitor – contextualizadas, tais histórias colaboram para o exercício da imaginação.

Assim, toda narrativa ficcional flerta com a realidade possibilitando reflexões significativas pelas trocas de experiências dos indivíduos, viabilizando identificação e descoberta do seu lugar humanizado no mundo, visualizando a si próprio e os demais nas relações de busca de sentidos.

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Créditos:
Texto: André Neves
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse

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