Peter Pank de Max – O Ultimato

Em 25 de Out de 2023 • 6 minutos de leitura
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Conheça um dos personagens mais engraçados da contracultura espanhola da década de 1980 em: Peter Pank por Max

É raro quem não conheça Peter Pan, personagem criado por Sir James Matthew Barrie, dramaturgo britânico, para a peça Peter Pan – or the boy who wouldn’t grow up (Peter Pan – ou o menino que não queria crescer), de 1904, lançada como o romance Peter and Wendy em 1911.

A história, famosa até hoje muito por conta da animação da Disney de 1953, apresenta um garoto que leva Wendy e seus irmãos, crianças londrinas, para a Terra do Nunca, uma ilha encantada, lar da fada Sininho e do pirata Capitão Gancho – o vilão –. E fugindo dos argumentos moralizantes do passado, Peter Pan apresenta questões interessantes sobre o amadurecimento e a passagem da infância para a vida adulta.

Independentemente disso, a equipe do Ultimato do Bacon – ou ao menos este que vos fala – adora HQs que subvertem clássicos infantis. Diferente do humor dramático de Pinóquio (2009) de Winshluss, Peter Pank vai por uma linha mais escrachada, excelente para quem curtia o humor da saudosa revista Mad.

Peter Pank – edição integral foi lançado em maio de 2023 pela editora Comix Zone! em formato de luxo, 168 páginas coloridas e capa dura. A HQ marcou a carreira do quadrinista de Barcelona Francesc Capdevila Gisbert, conhecido pelo pseudônimo Max, como assina a obra.

Os quadrinhos de Peter Pank, para maiores de 18 anos, saíram inicialmente na clássica revista El Víbora a partir de 1984, parodiando o filme da Disney com referências às tribos urbanas da época. No Brasil, capítulos do primeiro álbum chegaram a ser publicados na revista Animal nos anos 1980. O restante do material é inédito.

Vale fazer um alerta de gatilho, de antemão, para quem já sofreu assédio sexual. O quadrinho também não é indicado para pudicos.

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Max subverte a animação de Peter Pan, a levando para a contracultura espanhola

Qual a tramaPeter Pank de Max

Max segue bastante os acontecimentos originais do Peter Pan de 1954. No total, são três álbuns sequenciais que, embora se conectem, podem ser lidos separadamente.

Peter Pank é o primeiro, com 48 páginas. Nele, o protagonista tira a jovem Ana e seus irmãos de uma família aparentemente disfuncional para levá-los à Punkilândia. Os motivos são sórdidos e eles têm a ajuda do pó mágico da Sininho que, após colocado no nariz, faz a pessoa voar – sente o drama –.

Provavelmente não há nada mais horripilante para um punk anarquista do que fãs de Elvis Presley. No lugar do Capitão Gancho, a tripulação do navio pirata é comandada pelo Capitão Topete e seus Roqueiros, que na linguagem atual poderiam ser considerados cosplays do Rei do Rock e sua turma.

Após apresentar Ana aos Garotos Perdidos – jovens punks totalmente sequelados, que usam drogas e são loucos por brigas e sexo –, Peter Pank a chama para conhecer o Lago das Ninfomaníacas – que adoram BDSM e tomam o lugar das sereias na trama –. Enquanto isso, os amigos de Pank são presos pelo grupo de hippies – substituindo os Peles Vermelhas do original. A inversão de papéis – hippies violentos e punks vitimizados – se dá porque a Princesa Hippie foi sequestrada e os Garotos Perdidos são os principais suspeitos do “Grande Patriarca”.

Neste ponto, não há mais dúvidas do nível da loucura da HQ. Topete, o verdadeiro sequestrador, tenta descobrir com a Princesa onde fica o esconderijo de Peter Pank. Não consegue, pois ele a salva. O problema é que, na sequência, os roqueiros acabam capturando Sininho – àquela altura superenciumada pela atenção que Peter dá as outras damas – e as ninfomaníacas capturando Ana, que é virgem – olha o perigo! –. Será que nosso herói resolverá toda essa confusão?

Em O Licantropunk, de 44 páginas, temos uma homenagem aos clássicos do horror. Peter Pank é sequestrado por uma espécie de líder gótico que domina o “terror” em todo o mundo. Ele quer matar o Drácula, único que não responde aos seus desígnios. Para isso, pede ao cientista louco Slovirovich que insira um composto em Peter Pank, transformando-o em um zumbi que obedece instruções.

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Pan queria ser criança e ter em Wendy uma mãe, Pank quer levar a mocinha para a cama

Peter Pank precisará cruzar a Grã-Bretanha e, no caminho, lidar com representantes insanos de outras tribos urbanas, como clubbers e skinheads e, obviamente, licantropos. Este álbum ganha uma pegada mais aventuresca, ao estilo Spirou e Fantásio, sem perder as raízes undergrounds.

Por fim, Punkdinista! – referenciando o Sandinismo e a ditadura da Família Somoza na Nicarágua –, de 44 páginas, mostra a volta do protagonista à Punkilândia. A ilha, que antes misturava uma liberdade meio indígena e meio anarcopunk, foi dominada pelo governo militarista que proibiu os cidadãos de viverem livremente e colherem seus alimentos, pois tudo passou a ser privado. Obviamente, sem o consentimento de nenhuma das antigas tribos do lugar, que passam a ser perseguidas e terão que se unir para salvar Punkilândia.

Vale a pena ler?

O traço limpo de Max nos faz lembrar dos estilosos Bruce Timm (Batman: Louco Amor) e Yves Chaland (Spirou e Fantásio) – este, inspiração declarada – com um pouco dos ângulos pontiagudos e bem humorados de Chico Félix (Velho Sacudo), todos cartunescos. As cores são chapadas e foram restauradas digitalmente. Dito isso, a arte é espetacular e um dos pontos que chamam atenção no quadrinho.

Peter Pank provavelmente não seria escrito, ao menos dessa forma, hoje. O politicamente incorreto prevalece com muitas piadas envolvendo brigas, sexo e uso de drogas. Mas isso vem de encontro a um movimento político-social conhecido como “Movida Espanhola”, marcado pelo grito de uma juventude até então extremamente silenciada pela ditadura da “Era de Franco” (1936-1975).

Durante o processo de democratização, a contracultura e os movimentos undergrounds – terra fértil para a ideologia punk – se popularizaram, permitindo que os espanhóis pudessem falar abertamente de praticamente tudo.

Conforme mencionado, Peter Pank – edição integral é para quem curte o humor divertido e escrachado ao estilo Mad, porém, com toda essa pegada transgressora e subversiva dos anos 1980. O leitor pode traçar, ainda, alguns paralelos entre Peter Pank e Bob Cuspe de Angeli, anti-heróis de moicano e jaqueta de couro, frutos da contracultura punk e de momentos pós-repressão. No fim, há até abertura para uma sequência, no entanto, Max quis parar no terceiro álbum.

Gostou do texto? Leia outras matérias do David Horeglad (HQ Ano 1) para o UB!

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Avaliação: Excelente!

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Créditos:
Texto: David Horeglad – @hq_ano1
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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