Conheça a novela gráfica de Daniel Clowes que mistura sci-fi, assassinato, viagem no tempo e investigação em: Paciência
Paciência (2016) foi a primeira novela gráfica de Daniel Clowes após um hiato de cinco anos. A obra marca também a experimentação do autor com viagens no tempo, embora os elementos sci-fi esteticamente impactantes – como pessoas coloridas e bugigangas futuristas, por exemplo – não estejam onipresentes.
O quadrinho foi publicado no Brasil em 2017 pela editora Nemo, em 180 páginas com colorização chapada e vibrante. Nos EUA saiu pela Fantagraphics Books. A arte de Clowes, em seus conhecidos traços limpos, parece no auge.
Paciência é a história do estranho amor entre Jack Barlow e a esposa Paciência, envolvendo crimes, assassinato, investigação, viagem no tempo, violência doméstica e pobreza.
Qual a trama de Paciência de Daniel Clowes?
O ano é 2012. Paciência está grávida e o casal em situação financeira precária, mas sem faltar carinho e confiança entre ambos. Barlow apresenta estrutura neurótica obsessiva, com pensamentos do tipo: “será que eu mereço uma garota como ela?”, “será que eu mereço todo esse amor?”.
O casal Paciência e Barlow conversa sobre o bebê, antes dela ser assassinada
Um dia, o protagonista encontra a esposa morta no chão da sala. Enquanto a polícia considera Barlow o principal suspeito, ele faz investigação própria com auxílio de um detetive particular.
É quando pulamos para 2029, onde Barlow, grisalho, ainda não tem nenhuma pista definitiva, mas fica sabendo que um tal de Bernie conseguiu viajar no tempo. Barlow furta a tecnologia e vai ao passado com o objetivo de encontrar informações que o levem ao assassino e a mudar os acontecimentos do fatídico dia.
2006 e depois, por acidente, 1985 são os anos de buscas. Mas é nessas idas e vindas pelo passado que Barlow vai descobrindo quem Paciência era em profundidade, como foi sua infância, com quem conviveu e, principalmente, quais foram seus traumas. Por tabela, toda a condução investigativa de Barlow nos introduz ao psiquismo e as mudanças dele.
Os paradoxos temporais são incrivelmente utilizados por Daniel Clowes em Paciência que, sim, no final, nos levará novamente até 2012.
Vale a pena ler?
Não é a leitura para quem está procurando aventuras do tipo Incal, Juiz Dredd, Saga… Aqui, vale destacar, na forma do que Clowes costuma mostrar em suas HQs, o foco de Paciência está no aprofundamento dos personagens. As viagens no tempo são o criativo meio para isso.
O mérito, apesar de a obra ser best seller, é não ser clichê. Na história de amor de Clowes, os dois jovens, ao menos aparentemente, já se amam e são jurados um ao outro.
E aí que o autor utiliza muito bem dos elementos da investigação e da viagem no tempo para adentrar na complexidade do relacionamento dos protagonistas e suas personalidades, pasmem, mesmo que em 80% – cálculo estimado – da HQ eles sequer estejam fisicamente juntos.
Barlow em 2029, grisalho, segue na busca pelo assassino, ainda sem pista definitiva
Assim vamos nos aprofundando nos porquês do romance e seu surgimento. Barlow passa a investir obstinadamente em perseguir algo e não em concluir o processo de luto.
Estaciona na não aceitação e a busca pela loira passa a dar sentido – dramático, é verdade – para sua vida, fazendo de tudo para não a perder. Não é irônico que, sem Paciência, a obsessão só aumenta? Simbolicamente mantém ela viva.
Clowes trabalha muito com recordatórios, onde o protagonista dialoga consigo e com o leitor. É curioso perceber que não existe regra inalterável para uma boa HQ, como convencionou-se a dizer que os quadrinhos necessitam de menos escrita, por exemplo.
Nesse sentido, Paciência vai na contramão. As palavras são elemento importante para simular o fluxo de pensamentos da mente obsessiva de Barlow.
Os momentos destinados a exploração do gênero sci-fi, como a atmosfera de 2029 e os efeitos psicodélicos da viagem temporal, são feitos com maestria. Paciência é um quadrinho que, por todos os motivos citados, foge dos padrões, prende o leitor e merece uma chance.
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Avaliação: Ótimo!
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Créditos:
Texto: David Horeglad
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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