O Reino Gelado: A Terra dos Espelhos (Snezhnaya koroleva. Zazerkale) | |
Ano: 2019 | Distribuição: Galeria Distribuidora |
Estreia: 21 de Novembro |
Direção: Robert Lence, Aleksey Tsitsilin Roteiro: Andrey Korenkov, Robert Lence |
Duração: 80 Minutos |
Elenco: João Côrtes, Igor Jansen, Larissa Manoela |
Sinopse: O rei correu o risco de perder sua família devido as ações malignas da Rainha da Neve. Quando ele encontra uma forma de acabar com a magia do mundo, todas as criaturas com poderes mágicos são banidas para a Terra dos Espelhos. Somente uma pessoa pode manter os seres mágicos no nosso mundo e impedir que eles fiquem presos.
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Se você não viu nenhum dos anteriores, O Reino Gelado: A Terra dos Espelhos é uma fria
Longa de animação que estreia nesta quinta-feira, 21 de novembro, é tecnicamente razoável mas tem um roteiro sofrível e bastante equivocado
por Alexandre Baptista
O Reino Gelado: A Terra dos Espelhos é o quarto capítulo na saga iniciada em O Reino Gelado (Snezhnaya koroleva, 2012), seguido por O Reino Gelado 2 (Snezhnaya koroleva 2. Perezamorozka, 2014) e O Reino Gelado: Fogo e Gelo (Snezhnaya koroleva 3. Ogon i led, 2016).
Uma das primeiras coisas que se deve observar antes de entrar na sala pra ver um filme que é parte de uma saga é se o longa se sustenta como um filme isolado ou não. Grandes sagas como O Senhor dos Anéis, O Hobbit, The Matrix e Harry Potter, por exemplo, são bastante complicadas de serem seguidas isoladamente, ao passo que, ainda que se perca alguma coisa do conjunto, os filmes das sagas de Rambo, Rocky Balboa, O Exterminador do Futuro, Alien e outros, podem ser conferidos sozinhos, sem problemas.
Nesta animação russa, infelizmente, ter o conhecimento prévio do resto da saga é bastante importante. Caso contrário, perde-se bastante das relações que estão pra lá de desenvolvidas entre os personagens.
Outra coisa que parece ter sido desenvolvida desde o primeiro – melhorando bastante – é a animação em si. Bastante estilizada, ela funciona razoavelmente. O único incômodo é a pluralidade de design dos personagens. A impressão que fica é que cada time desenvolveu um deles, pois são diferentes demais entre si. Alguns são simpáticos e bem-feitos; outros parecem estilizados em excesso, destacando-se negativamente no longa.
A trilha sonora é bastante genérica, mas funciona. Um tanto burocraticamente, é verdade, mas é algo que, em uma animação voltada de fato ao público infantil, deixa-se passar.
O trabalho do elenco não foi conferido, pois a sessão era dublada. O trabalho de tradução e adaptação infelizmente foi realizado de maneira bastante precária e incorreta. Uma pena.
Com tanta gente boa na área, precisando de trabalho…
Um exemplo que doeu bastante aos ouvidos era a presença das palavras “mágico” e “mágica”, como um substantivo designativo da ação ou função. Infelizmente,
2. criação de ilusão por meio de truques e artifícios, esp. de agilidade; ilusionismo, prestidigitação.
…entre outros descuidos absurdos que sinceramente depõem contra o produto final de forma bastante pronunciada.
Porém, ainda que se releve esse tipo de coisa, infelizmente o roteiro é bastante ruim – e fica ainda pior quando não se tem a perspectiva das animações anteriores. No entanto, há uma inversão de valores bastante ruim, logo no começo do longa. Basicamente, o vilão do filme é o rei Harald, avesso a magia e grande incentivador da tecnologia, do conhecimento e da educação.
Preciso dizer mais?
Em um momento de obscurantismo crescente, a fofa animação coloca, nos primeiros minutos da apresentação, um discurso do vilão que quer acabar com a magia do mundo, para que prospere a ciência, a educação e o estudo científico. Ele incentiva o filho a estudar matemática, ao passo que o longa reforça o estereótipo de que “matemática é chata”.
"O nerd de plantão, bicampeão das olimpíadas de matemática da escola em mim não pode aceitar isso!"
Especialmente em uma animação que potencialmente serviria para se levar os sobrinhos ou a filha pequena…
Alguns vão dizer “puro mimimi”. No entanto, existe um motivo para não se falar palavrão na presença de crianças, consumir bebidas alcoolicas ou fumar na frente delas, não expo-las a conteúdos adultos de todas as formas… e é pelo mesmo motivo que não se reforça estereótipos negativos, mesmo que seja “só em uma animação”. Enquanto um pessoal por aí está preocupado se a princesa gelada da Disney é ou não lésbica, o quarto da capítulo da hitória de sua versão russa ridiculariza a educação e incentiva a pena de morte.
“A solução para o mundo seria pendurar todo mundo que é mau pelo pescoço”, diz um dos piratas em certo momento. Bandido bom é o bandido morto. Ciência e educação estão matando a magia do mundo…
E isso sem falar na relação da protagonista Gerda com seu “interesse amoroso”: um garoto que abandonou Gerda para morrer e que acabou morrendo pelas mãos dela. A pior das mensagens, melhor simplesmente não comentar.
O que é mais triste é que a animação, tirando esse deslize monumental, funcionaria. Especialmente quando pensamos em seu público alvo. O longa não se demora em conflitos, tudo é resolvido rapidamente e descoberto instantaneamente, sem desenvolvimento ou preparo. O que incomoda aos adultos, mas garante a atenção dos pequenos sem que se cansem ou fiquem entediados.
O universo de O Reino Gelado é em si bastante interessante, com uma mistura de Frozen – Uma Aventura Congelante (Frozen, 2013), Como Treinar o Seu Dragão (How to Train your Dragon, 2010) e alguns elementos de Harry Potter.
De maneira geral e para qualquer efeito, o tempo de se aceitar qualquer lixo como entretenimento tem ficado para trás. E isso é, em parte, responsabilidade de críticos e jornalistas que de fato avaliam as produções tecnicamente, sem se deixar levar por o que quer que seja.
O Reino Gelado: A Terra dos Espelhos erra feio. Afinal, não é só um desenho animado. É um produto de alguns milhares de dólares. E, como consumidores, temos o dever de exigir algo com melhor qualidade.
Avaliação: Ruim
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Trailer
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