O Fantasma por Jim Aparo (1969-1970) – Baú de HQs

Em 30 de Jun de 2022 • 6 minutos de leitura
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Saiba como Jim Aparo, Charlton Comics e O Fantasma cruzaram suas histórias entre 1969 e 1970

Se você lê quadrinhos há algum tempo, deve conhecer o trabalho de Jim Aparo, responsável por um dos traços mais marcantes do Batman durante sua longa passagem pela DC Comics.

Mas outra editora e outro personagem tiveram papel fundamental na história do lendário quadrinista. A Charlton Comics existiu entre 1945 e 1986 e ficou conhecida pela economia em seus negócios. A editora costumava contratar artistas novatos – para pagar mais barato – e buscava conteúdo de empresas em processo de falência.

Foi assim, no início da década de 1950, por exemplo, com a compra da Fawcett Comics, casa do Capitão Marvel. Este, porém, não entrou no acordo, pois foi para a DC Comics após uma batalha judicial.

Besouro Azul é um dos super-heróis consagrados que passaram pela Charlton. Outros dois que fizeram sucesso na DC, Capitão Átomo e Questão, surgiram nas revistas da editora. Ambos criados pelas mãos de Steve Ditko – será que você conhece a maior criação dele? –.

Os três super-heróis acima acabaram entrando para o panteão da DC Comics, além de terem servido de inspiração para Alan Moore em Watchmen (1986), mas isso fica para outra matéria.

No final da década de 1960, a Charlton Comics cancelou seus títulos e começou a trabalhar com personagens da Hanna-Barbera e King Features Syndicate (KFS). Já sabe onde chegamos, né? Entre os títulos licenciados estavam Recruta Zero, Popeye, Jungle Jim, Flash Gordon e O Fantasma.

A editora publicou a revista The Phantom a partir da número #30, de fevereiro de 1969, até a #74, em janeiro de 1977. Antes, a responsável pela publicação era a Gold Key e, após a edição #74, passou a ser a King Comics, selo da KFS, detentora dos direitos do herói.

“Onde entra Jim Aparo?”, você já deve estar se perguntando. Lembra que a Charlton Comics, para economizar, contratava novatos? Aparo foi um deles. Dick Giordano, outra lenda da nona arte e das revistas do Batman, editor na Charlton, deu a oportunidade que Jim Aparo queria de entrar no mundo dos quadrinhos.

Na editora, Aparo passou por diversas revistas, fazendo histórias de terror, faroeste, romance, suspense e ficção científica até que, em abril de 1969, passou a desenhar O Fantasma. A participação dele foi das revistas #31 a #34 e #36 a #38, de junho de 1970.

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O Fantasma pelas mãos de Aparo, sentindo a responsabilidade do manto

Na sequência, Giordano assumiu a edição da DC Comics e, claro, levou Aparo com ele. Os trabalhos de tal fase podem ser vistos nas revistas do Aquaman e do Batman, entre outras.

Conhecer todo esse contexto acrescenta muito na leitura das aventuras de O Fantasma desenhadas por Jim Aparo que, assim como fez com o Cavaleiro das Trevas, deixou sua marca registrada nos traços do espírito-que-anda.

A editora Mythos trouxe, em 2020, todas estas edições de The Phantom em um único encadernado, com capa dura e 160 páginas coloridas. O trabalho editorial é muito bom. As cores são impressas mantendo a retícula aparente típica da época e as bordas das páginas em cor beje, emulando o desgaste do tempo. A nostalgia aumenta com páginas de anúncio da época entre as edições.

Antes, apenas a The Phantom #37 teve suas páginas publicadas no Brasil, em O Fantasma #195 (1972) e O Fantasma #336 (1983), da RGE.

Qual a trama de O Fantasma por Jim Aparo

No total, são sete revistas compiladas em O Fantasma por Jim Aparo (2020). Todas têm histórias fechadas e algumas edições contam com mais de uma. É o caso de The Phantom #34, com duas, e #37 e #38, com três cada.

Apesar de as tramas serem curtas, em oposição às primeiras aventuras do Fantasma, como Os Piratas Singh (1936), que demorou cerca de nove meses para ter conclusão, o ambiente aventureiro é bem semelhante. Por vezes, um tanto quanto inverossímil e ingênuo.

Ou seja, é necessário ter em mente que são quadrinhos leves, para divertir e passar o tempo, além de históricos. O clima da Bangalla e as máquinas da década de 1970, como carros, navios e aviões, ainda mais pelas mãos detalhistas de Aparo, são pontos fortes.

Entre as histórias, destacam-se a primeira, O Fantasma de Shang-Ri-Lá (1969), onde um amigo do Fantasma, Niles, se envolve em um acidente de avião nas montanhas do Himalaia e descobre um paraíso escondido.

Os líderes do lugar cobram uma contribuição financeira alta e exigem o segredo de seus habitantes, que precisam ser da “elite”. O golpe é óbvio, mas como o Fantasma convencerá seu amigo Niles, cego pelo desejo?

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Aparo abusa dos quadros em diagonal, ajudando a dar movimento para os momentos de ação

Em O Faraó Fantasma (1969), de The Phantom #32, arqueólogos do Egito encontram um esquife com uma múmia que guarda objetos iguais aos do espírito-que-anda. Eis que dela sai um homem que jura ser o Fantasma original, convence os locais por meio de demonstrações de magia e pretende governar a região. O Fantasma terá que investigar e confrontar aquele que o chama de impostor.

Em The Phantom #37, temos uma curta história, Sequestro Aéreo (1970), que, como outras, chega a ter um lado cômico, embora na época isso provavelmente não fosse proposital.

Em uma viagem para a terra natal, EUA, Fantasma acaba entrando em um avião sequestrado por um terrorista. A solução? Acredite se quiser, ele diz ao maluco que é outro sequestrador, enviado pelo líder da nação de ambos – seja lá qual for – e que, sendo um agente do governo, coordenará tal missão para a “grande república”.

A história, feita na época da Guerra Fria, pode até soar como uma provocação à Cuba ou qualquer outro país aliado à URSS, mas não deixa de ser divertida e engraçada, pelo nível de loucura.

Vale a pena ler?

Historicamente é grande o valor que tais revistas têm para os quadrinhos. É cruzamento de quatro grandes nomes: O Fantasma, primeiro herói das HQs, Charlton Comics, que entregou alguns dos personagens mais legais da DC e que inspirou Watchmen, e os lendários Jim Aparo e Dick Giordano.

Quanto às histórias, são uma diversão leve, como dito antes, com ar retrô e nostálgico. Conclusões rápidas e objetivas, algumas excessivamente mirabolantes, como de costume. Pode ser uma leitura de nicho, mas se você pertence a qualquer um deles – fã de Fantasma, da história das HQs ou de Jim Aparo –, é tacada certa.

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Créditos:
Texto: David Horeglad – @hq_ano1
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse

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