O conto da Aia, ficção científica de caráter distópico escrito por Margaret Atwood em 1985, já obteve versões para filme, série de televisão, audiobook, ópera, rádio e teatro. Na mais recente, adaptada para os quadrinhos, temos uma visão especulativa de contexto político e social com temas estranhamente comuns aos dias atuais como a perda de liberdade, violência de gênero e um regime teocrático que subjuga as mulheres, escravizando-as sob vários aspectos.
São os quadrinhos, mais uma vez, mostrando que há espaço para diálogos e reflexões importantes por meio da narrativa sequencial.
A tradução realizada pela Editora Rocco, a partir da adaptação e ilustração dos originais pelas mãos da artista canadense Renée Nault, é caprichada e fornece recursos imagéticos relevantes que reforçam o compromisso de trazer esclarecimento por meio da Nona Arte.
Além de um texto afiadíssimo que retrata a rotina das aias envolta em preconceitos, lutas e assédios para sobreviverem a mais um dia de sofrimento sob o regime totalitário da República de Gileade.
O Conto da Aia em Quadrinhos
Uma Nova Nação
Na graphic novel, os Estados Unidos sofrem um duro golpe e novas medidas são criadas sob a visão de um Estado teocrático, dentre elas a revogação dos direitos das mulheres e a criação de um sistema estratificado em que elas são submetidas a papéis que consistem em esposas (mulheres dos comandantes), econoesposas (mulheres dos homens de classes inferiores), Martas (empregadas domésticas), tias (responsáveis pelo treinamento das aias), aias propriamente ditas e não-mulheres (excluídas da sociedade por transgressão e desobediência).
A protagonista é Offred – na verdade, uma designação atribuída à aia em questão – que diz: “tenho outro nome, que ninguém usa porque é proibido. Digo a mim mesma que não tem importância, nomes são como números de telefone, úteis apenas para os outros.
Assumindo o papel de serva reprodutora do Estado num momento de queda da natalidade mundial causada pela poluição do meio ambiente e sucessivas guerras, sua vida pertence a outra pessoa (no caso, o comandante) – ou seja, Offred ou “Of Fred” (“De Fred”, em inglês), está nas mãos do déspota, enfatizando que as mulheres perdem sua identidade pessoal e adquirem uma nova função no regime.
Claro que, em se tratando de uma obra ficcional, o Conto da Aia apela para certa liberdade poética e suspensão da descrença para fazer com que o leitor mergulhe de maneira mais profunda na obra. No entanto, é muito recompensador ao leitor que se arrisca neste tipo de leitura reflexiva.
Papel Social e Reflexão
A graphic novel não poupa críticas ao establishment, afinal, no cenário ambientado para o Conto da Aia não existem jornais, revistas, livros ou filmes, as universidades foram extintas e os professores são perseguidos por promoverem o livre pensamento, cidadãos considerados perigosos para a República de Gileade (latinos, negros, estrangeiros, homossexuais e traidores) são mortos em fuzilamentos e colocados em praças públicas como demonstração de poder enquanto apodrecem.
Também, a violência de gênero torna-se assunto relevante devido a observação de que as minorias não possuem representatividade forte, sendo constantemente submetidas às mazelas que a sociedade impõe – uma violência que é fruto de desigualdades históricas entre os gêneros e que é reforçado por papéis distorcidos na sociedade.
Um caldeirão de informações que fornece parâmetros para a problematização da conjuntura em que tais mulheres se encontram (emocional, econômico e cultural), sendo submetidas regularmente a abusos morais variados.
Não Deixe de Ler O Conto da Aia em Quadrinhos
Vale a pena conferir esta que é uma das histórias em quadrinhos mais perturbadoras da atualidade, causando um efeito catártico muito forte no leitor – seja através das ilustrações ou o apelo em chamar atenção para temas que jazem à nossa porta e que, infelizmente, são tão corriqueiros e banalizados.
O papel relevante dos quadrinhos, antes voltados para o mero entretenimento, aumentou seu propósito de existência e hoje é importante ferramenta para conscientização das pessoas, enfatizando a história da humanidade por meio de narrativas sequenciais das grandezas e misérias humanas.
O Conto da Aia em quadrinhos é algo que transcende o tempo e revela o horror real de um mundo mergulhado no caos, medo, guerras e que a violência está presente em cada nação, Estado, esquina ou lar – triste dizer que esta é a realidade atual e não apenas uma história de gibi.
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Créditos:
Texto: André ‘Brasuka” Roberto – @Comunicafic
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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