Conheça a adaptação em quadrinhos de uma das maiores obras do romantismo brasileiro: Noite Na Taverna
Noite na Taverna foi publicado originalmente em 1855, três anos após a morte de seu autor, o paulistano Álvares de Azevedo, aos 20 anos. A obra é uma referência no gênero de ficção gótica brasileira e bebe das águas de autores como Lorde Byron (1788-1824), poeta e escritor londrino do Romantismo.
Já experiente em HQs de terror, Marcel Bartholo – coautor de Lama (2018) e Canil (2020) – foi o responsável por adaptar e desenhar a obra para os quadrinhos. A publicação saiu no fim de 2021 pela editora Ateliê, em formato de luxo com capa dura e 104 páginas coloridas.
Qual a trama de Noite Na Taverna?
O primeiro capítulo, “Uma Noite do Século”, um prólogo, apresenta cinco amigos bebendo vinho em uma taverna. A discussão rapidamente abre espaço para que cada um conte uma lembrança fantásticas, competindo para ver qual a história mais assustadora.
Assim seguem os capítulos. Solfieri, Bertran, Gennaro, Claudius Hermann e Johann vão narrando suas histórias para impressionar os companheiros de mesa. Na primeira, em Roma, Solfieri avista uma bela mulher que canta em uma noite chuvosa e a segue até o cemitério.
Em cada história, Bartholo experimentou uma técnica e palheta de cores
Um ano depois, após uma noite de bebida e sexo, encontra a mesma personagem em um caixão dentro de uma igreja. Ao descobrir que estava viva, decide sequestrá-la. As cores usadas por Bartholo nesse capítulo são escuras e lúgubres. A conclusão é breve e dantesca.
O conto de Gennaro tem um toque especial. Isso porque Bartholo se inspirou nos quadros de Monet e outros impressionistas para as ilustrações. Em uma intrincada rede de relacionamentos, Godofredo Walsh é mestre do protagonista, um pintor, que se apaixona por sua esposa, Nauza. A filha do casal, porém, Laura, de 15 anos, é quem cai de amores pelo rapaz. A história não fica no platonismo e tem resultados perturbadores.
Hermann recorda de uma paixão que teve pela Duquesa Eleonora em Londres, após apostar fortunas no turfe. Com alguma ajuda subornada, ele a sequestra enquanto ela dorme. O capítulo de Johann é, inicialmente, sobre o duelo de armas em Paris, após um desentendimento por um jogo de bilhar. O derrotado, Arthur, tira do bolso uma carta a mãe e outra a sua amada, para que Johann as entregue, no que o protagonista tentará tirar o máximo proveito pessoal possível.
Todas as histórias têm conclusões envolvendo situações que chocam, como necrofilia, suicídio, incesto, assassinatos, canibalismo e traição. Embora dramáticas, o terror está sempre presente.
Vale a pena ler?
Para quem gosta de literatura e quadrinhos, está aí uma fronteira excelente. Bartholo foi muito competente em condensar os contos de Álvares de Azevedo, trazendo todo aquele clima boêmio e soturno de cidades que explodiam cultura e romantismo ao redor do mundo.
E é justamente o contraste entre o amor que todos os personagens tiveram com mulheres em cidades românticas com os resultados extremos, bizarros e terríveis de suas aventuras que marcam as histórias dos cinco amigos.
A história de Solfieri mostra como um acontecimento pode mudar toda uma vida
As técnicas e cores que Bartholo usou nos capítulos deram uma personalidade ainda mais peculiar a cada história. Apesar de o artista ter variado no estilo, em todos os casos dá para reconhecer facilmente a mão do autor.
Os extras ao fim da história são bem interessantes e completam a experiência. Trazem detalhes da obra original, dos autores (Azevedo e Bartholo) e da mídia escolhida para adaptação que, inclusive, tem como um dos objetivos atrais novos leitores para os clássicos brasileiros.
A utilização da linguagem presente no texto de Azevedo faz toda a diferença ao trazer o clima de época e, creio, seja importante no quesito paradidático, introduzindo este vocabulário aos novos e futuros leitores do gênero.
Mesmo lendo hoje, todos os capítulos são, de alguma forma, impactantes e lidam com situações extremas. Impossível não imaginar como era lidar com estes dogmas para o leitor do fim do século XIX, misturando o real e o imaginário. Vale a leitura!
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Avaliação: Excelente!
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Créditos:
Texto: David Horeglad – @hq_ano1
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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