Conheça a última publicação em quadrinhos do maior detetive do mundo em: Na mente de Sherlock Holmes de Cyril Lieron e Benoit Dahan
Alguns fatos são indiscutíveis. Um deles é que Sherlock Holmes é o maior detetive da ficção. Ele começou na literatura britânica, criado por Sir Arthur Conan Doyle. A primeira história, Um Estudo em Vermelho, saiu em 1887 na revista Beeton’s Christmas Annual, já apresentando a famosa dupla com o Dr. John H. Watson. No total, foram escritos 56 contos pelo autor.
Não demorou muito para Holmes ganhar o cinema, na década de 1930, com a marcante interpretação de Basil Rathbone – nada menos que 14 filmes! –. O ator não foi o único a utilizar a lupa. Mais recentemente, tivemos dois longas com Robert Downey Jr. – Sherlock Holmes (2009) e Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras (2011) – e um com Ian McKellen – Sr. Sherlock Holmes (2015) –.
O detetive também deu origem a peças teatrais e séries de TV, como Sherlock (2010-2017), da BBC, onde sua versão jovem é feita por Benedict Cumberbatch. Até spin-off temos, com os dois filmes de Enola Holmes, sobrinha interpretada por Millie Bobby Brown para a Netflix (2020-2022).
Ok, mas por que todo esse preâmbulo? Apenas para refletir que grandes personagens sustentam adaptações para qualquer mídia, mas nada melhor do que juntá-los com a utilização máxima das possibilidades narrativas do tipo de arte escolhido. Essa foi a busca dos franceses Cyril Lieron e Benoit Dahan com o quadrinho Na mente de Sherlock Holmes: o caso do bilhete escandaloso (2023).
Na HQ, vamos para dentro da cabeça de Holmes, com infográficos que nos levam pelo “fio da meada”
A obra, de 2019, foi publicada neste ano pela editora Pipoca & Nanquim, com 108 páginas, edição de luxo. Os autores brincam com a materialidade da HQ desde a capa, que tem um buraco na área que seria a cabeça de Holmes, revelando a página 3, onde vislumbramos uma biblioteca gigantesca com dezenas de seções. Sim, em um jogo divertido de semiótica, o abrir da página nos leva para a complexa mente do protagonista.
Qual a trama de Na mente de Sherlock Holmes de Cyril Lieron e Benoit Dahan
O agente do posto policial de Bishopsgate Street traz um sujeito encontrado às três da manhã correndo de ceroulas e desmemoriado em Spitalfields. Ele convenceu o guarda de que era amigo do Dr. Watson, o que foi confirmado. Tratava-se do Dr. Hebert Fowler, médico, com a clavícula fraturada, mas nenhum sinal de trauma na cabeça que justificasse a amnésia.
O detetive Sherlock Holmes, antes entediado, ganha um novo caso. E desde o início percebemos a proposta da HQ, que é mostrar em grids semelhantes a infográficos a forma com que o protagonista raciocina antes de proferir suas deduções. No caso de Fowler, por exemplo, vemos diversos indícios desenhados em destaque, como o nariz irritado, o sapato feminino no pé direito, as manchas de fruta na roupa e a lesão na altura do ombro.
Na apresentação visual seguinte, acompanhamos a mente de Holmes, onde ele pega todas essas pistas e as trabalha, passando organizadamente por seus conhecimentos/livros de botânica, geografia, química, etc. A sacada gráfica é ótima: Holmes é uma casa e sua cabeça é o sótão, com milhares de impressos.
O leiaute das páginas se destaca na obra, dinâmicos e criativos
O médico havia dito que a última coisa que se lembrava é de querer assistir a um espetáculo. Na casa dele, Sherlock encontra o bilhete para o show de mágica com ideogramas chineses e papel luxuoso. Toda a HQ segue desse jeito. Raciocínios dispostos graficamente, assim que o detetive chega, a partir das descobertas anteriores, em cada lugar de investigação: as gráficas que fazem bilhetes de alta qualidade, a área em que Fowler caiu do town coach e foi encontrado pelo policial, o Ministério das Relações Exteriores…
Paralelamente, dezenas de ingleses estão desaparecidos, e obviamente haverá ligação com o caso do Dr. Fowler, se desdobrando em uma grande intriga internacional. É tudo o que podemos falar.
Vale a pena ler?
Uma escolha certa para os fãs de Sherlock Holmes e investigação. Cyril Lieron e Benoit Dahan conseguem apresentar uma história digna de Sir Conan Doyle. A utilização das possibilidades narrativas do quadrinho é bem explorada pela dupla, com grids criativos e relacionados com a proposta do enredo.
A brincadeira com a materialidade do livro raramente não agrada os leitores. No entanto, diferente do que acontece com a série Julius Corentin Acquefacques, prisioneiro dos sonhos (1990-2020), do também francês Marc-Antoine Mathieu, os recursos utilizados, em sua maioria, não são indispensáveis para a narrativa. O que não tira o caráter divertido da coisa, normalmente a indicação de ver a folha contra a luz, juntando partes do desenho de duas páginas diferentes para revelar um dado novo.
Há momentos de ação, mas desenhados com grids igualmente especiais
A construção da trama a partir do nada é legal. Explico: em histórias do gênero, normalmente é mostrado um crime e o investigador sai em busca do criminoso. Em Na mente de Sherlock Holmes, ao invés de um roubo ou assassinato, temos um aparentemente simples caso de amnésia, que vai se desdobrando em algo cada vez maior. Em determinado momento, são entregues indícios de quem é o criminoso, mas não de qual o objetivo e motivação real dele. É nisso que os autores seguram o leitor.
Há, ainda, uma crítica muito bem colocada ao colonialismo perpetrado por países do hemisfério norte, sobretudo quanto a um recorte simbólico de uma prática desumana do século XIX. Nesse ponto, o roteiro de época se contextualiza em eventos históricos reais. Não é possível, porém, dar nenhum detalhe sem entregar spoilers devastadores.
Imaginável o tamanho do desafio, para um autor, que é entrar na cabeça do maior detetive de todos os tempos. Com Na mente de Sherlock Holmes: o caso do bilhete escandaloso, podemos dizer que Lieron e Dahan acertam na mão. O título, nesse formato em que adentramos no “sótão” de Holmes, merece novas aventuras.
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Avaliação: Ótimo!
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Créditos:
Texto: David Horeglad – @hq_ano1
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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