Maria do Caritó | |
Ano: 2019 | Distribuição: Imagem Filmes |
Estreia: 31 de Outubro |
Direção: João Paulo Jabur Roteiro: Newton Moreno (baseado na peça de); José Carvalho, Newton Moreno (roteiro) |
Duração: 95 Minutos |
Elenco: Lilia Cabral, Leopoldo Pacheco, Juliana Carneiro da Cunha, Larissa Brachera, Alice Assef, Kelzy Ecard, Fernando Sampaio, Priscila Steinman, Gustavo Vaz, Sylvio Zilber |
Sinopse: Cansada da vida solitária que leva, Maria (Lilia Cabral) sonha em encontrar um verdadeiro amor. Prometida pelo pai para ser entregue virgem a São Djalminha, um santo de quem ninguém nunca ouviu falar, só mesmo um milagre poderia ajudar. A única certeza que Maria tem é que, custe o que custar, ela precisa desencalhar e sair de uma vez desse Caritó.
[tabby title=”Alexandre Baptista”]
Maria do Caritó é uma grata surpresa entre as estreias nacionais
Longa, baseado em peça homônima, traz o palco e o circo para os cinemas em uma produção leve, divertida e bastante contundente
por Alexandre Baptista
Maria do Caritó, que estreia nesta quinta 31 de outubro nos cinemas, é um filme muito maior do que aparenta a princípio.
Em primeiro lugar, por sua temática, que envolve uma mulher, Maria, sob o domínio sufocante de seu pai, da igreja e da sociedade da fictícia cidade de Úrsula situada ali, meio no norte de Minas, pertinho do sul da Bahia no litoral alagoano do agreste do sertão cearense.
A respeito dessa temática, a vasta importância social que Maria do Caritó representa e os ecos encontrados no longa A Vida Invisível de Karim Aïnouz, falo mais nessa matéria especial.
Baseado na peça homônima de Newton Moreno, também estrelada por Lília Cabral, o longa incomoda um pouco no começo – o tom da atriz varia demais, com pouco naturalismo na maioria das cenas e notas bastante caricaturais na interpretação que, sem motivo, somem, para uma interpretação mais contemplativa em seguida. O linguajar da atriz, especialmente em seu sotaque, também se altera bastante.
No entanto, todo esse estranhamento e incômodo logo se encaixam em um lugar de conforto. O longa se mostra uma tentativa de transposição da linguagem teatral para as telonas e o esforço do diretor João Paulo Jabur acaba compensando. É possível que o momento chave para esse “encaixe” aconteça quando, na história, ocorre a chegada do circo na cidade.
Os aspectos circense e mambembe de algumas cenas reforçam a teatralidade empregada no longa; as cores saturadas e profusas, as piadas inocentes, as situações inusitadas e estapafúrdias… tudo agrega ao clima geral da produção que se mantém leve, caricata e bastante exagerada.
Outro mérito é que o filme por muito pouco não cai no tradicional “humor de baixo calão” tão comum nas produções brasileiras. Em algumas cenas há um quase “deslizar” nessa direção que, felizmente, é rapidamente retomado e, sendo bastante justificável para caracterizar a personagem principal da história, uma mulher que nunca se relacionou com alguém, não incomoda.
A trilha sonora de Sacha Amback funciona em seu contexto e a escolha das músicas do “pout-pourri do amor” da personagem durante o filme é mais uma prova da quebra lírica da linguagem cinematográfica para a teatral. Não raro em peças contemporâneas de comédia, tal técnica é utilizada pelos atores em favor de um certo efeito cômico.
Aqui, o recurso quebra a ilusão do longa atemporal, universal, estilizado, situado em uma cidade fictícia e coloca toda a narrativa no Brasil de 2019, reforçando a comédia do filme como apenas uma ironia sobre algo que é um verdadeiro drama que encontra eco na vida de muitas mulheres.
No elenco, é importante destacar a sensacional interpretação de Leopoldo Pacheco para o Coronel, que dá ares de cordel para a narrativa, bem como algumas reviravoltas no terço final do longa.
Apesar de escorregar em sua última cena com o discurso final – melhor seria fazer uso do “santo”, sem culpas, sem discursos e nem remorsos – Maria do Caritó é um filme leve, divertido e necessário que merece todo o destaque possível.
Avaliação: Ótimo!
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Trailer
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