Conheça a interpretação em quadrinhos do álbum mais engraçado dos anos 1990: Mamonas Assassinas
Em 1995 era lançado o álbum Mamonas Assassinas. Único trabalho de estúdio da lendária banda de rock homônima, está entre os mais vendidos de todos os tempos no Brasil, com mais de 3 milhões de cópias e a certificação de diamante triplo.
Mas, infelizmente, a carreira de sucesso dos Mamonas Assassinas durou menos de um ano. Em 2 de março de 1996, Dinho, Júlio Rasec, Samuel Reoli, Bento Hinoto e Sérgio Reoli foram vítimas de um acidente aéreo fatal na Serra da Cantareira, em São Paulo.
Vale lembrar que o carisma e as letras engraçadas não deixavam em segundo plano toda a inteligência e referências da banda, que vão de Falcão, Titãs e Elton John ao The Clash, além de críticas cotidianas e personagens que ironizavam os clichês e estereótipos da época.
Mais de 25 anos se passaram e a editora Estética Torta propôs um desafio ao quadrinista brasileiro que melhor traduz a vibe de quem cresceu nos anos 1990 em seu trabalho: Thiago Ossostortos.
A ideia era criar uma HQ que unisse todas as músicas e personagens do álbum de 1995 em uma história única. Deu certo. Mamonas Assassinas: A Graphic Novel Oficial foi publicado em novembro de 2021 em edição de luxo, capa dura, com cerca de 112 páginas.
Um dos protagonistas, Baiano já chega com cargo de liderança em um “p*** predião legal”
Qual é a trama de Mamonas Assassinas: A Graphic Novel Oficial
A linha de condução inicial é a história do baiano de nome Liraldo, que acabou de se recuperar de um acidente. Liraldo, recém-chegado a São Paulo, consegue um trabalho como responsável pelos andaimes de uma obra, recebendo salário maior que dos outros operários e gerando inveja em Ivanildo, pai do “Cabeça de Bagre”, aquele garotinho que tirava “E” na oitava faixa do álbum.
Confuso? Pera, que é só o começo da loucura. Dejair, o corno manso, recebe no C.A.E.S. (Cornos Anônimos que se Encontram às Sextas) um novo membro, o Betinho do Pagode. Se você lembra da música “Lá Vem o Alemão”, único sambinha do disco, identificará na hora o personagem.
É que a mulher dele havia caído na lábia e no dinheiro beleza de Peterson Zimman, o Alemão, conforme o sambista relembra em flashbacks.
O Alemão tem importância ímpar na trama. Além de dono da empresa “Sabão Crá-Crá”, é o responsável – ou vítima – no acidente cujo Liraldo estava hospitalizado no começo da HQ. E pasmem, o Baiano pilotava um jegue naquela hora! Ou melhor, jegue não, o Jumento Celestino, fiel à quinta faixa do álbum.
O “Cornos Anônimos” une os dois cornos do álbum: Dejair e Betinho do Pagode
O famigerado Peterson Zimman era também dono do Escort conversível e da Brasília amarela, mas precisou repassá-la ao Baiano por uma decisão judicial. Betinho do Pagode está disposto a se vingar do Alemão e acredita que ele ainda possua o carro lourejante.
Essa é só uma das confusões. Quando todos começam a receber convites para uma tal de suruba, Ivanildo – aquele que inveja o Baiano –, sem dinheiro, reflete em quantas calças e carteiras estarão “dando sopa” durante o bacanal.
Isso sem falar em um plano mirabolante por trás do evento, organizado pelo… Alemão! Onde está o casal de portugueses, a Arlinda Mulher, o Robocop Gay, o “Chopis Centis” e os “maconheiro doidão”? Calma, todos estão presentes nesta tresloucada história de humor, mas deixarei o restante para sua leitura.
Vale a pena ler?
Respeitando o que foi criado pelos Mamonas Assassinas, Thiago Ossostortos teve total liberdade criativa, adaptando os personagens para se encaixar no roteiro e buscando não cair em armadilhas que pudessem ofender minorias.
Alemão, lindo, loiro e forte, é o elo de ligação de muitas músicas na HQ
As mudanças não tiraram a essência dos personagens, mas trouxeram uma nova interpretação para o álbum. Algo muito interessante é que Ossostortos conseguiu nos mostrar como seriam esses personagens em uma visão humorística moderna.
É uma responsabilidade muito grande pois, após a leitura, muitas das imagens que passamos a ver mentalmente quando escutamos o álbum passam a ser aquelas vistas nas páginas da HQ.
A arte de Mamonas Assassinas: A Graphic Novel Oficial é bastante autoral. Soa divertida e descompromissada. Um dos destaques é a colorização, que mistura a paleta de uma forma única e inspirada no conhecimento que o autor tem da pintura à guache.
Inclusive, a capa de cada um dos cinco capítulos tem uma cena de amor pintada à mão com a técnica, todas saídas diretamente da música “Mundo Animal”.
Da mesma forma, a contracapa apresenta pinturas dos integrantes da banda. Não sendo este um quadrinho biográfico, a homenagem acaba sendo mais à obra do que propriamente ao quinteto – se é que é possível dissociar a arte do artista –.
Como toda reinterpretação, acrescenta-se algo de seu intérprete. A escolha de Ossostortos parece acertada, sobretudo se pensarmos no conhecimento dos anos 1990 que ele mostrou em Kombi 95 (2017) e o clima nostálgico que costuma apresentar em suas HQs.
Seja dito, aquelas telas de tubo com programações da época estão presentes em Mamonas Assassinas: A Graphic Novel Oficial, no estilo entre O Cavaleiro das Trevas (1986) e Mjadra (2020), com o humor de Ossostortos.
A leitura é muito divertida e o detalhado cruzamento entre todas as músicas fica sem pontas soltas, com algumas surpresas no final. Item essencial para os fãs da banda e, claro, conhecer o álbum torna a experiência única.
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Avaliação: Excelente!
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Créditos:
Texto: David Horeglad – @hq_ano1
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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