Conheça a história de origem de Arlequina por seus criadores em: Louco Amor de Paul Dini e Bruce Timm (1994)
Arlequina é hoje uma das principais personagens da DC. Surgiu relativamente discreta, em 1992, no 22º episódio de Batman: A Série Animada, de Paul Dini e Bruce Timm.
Uma das inspirações teria sido a atriz Arleen Sorkin, amiga de faculdade de Dini, que na novela da NBC Dias de Nossas Vidas – no ar desde 1965 – apareceu com uma fantasia de bobo da corte. Posteriormente, ela foi responsável por dar voz e personalidade a personagem da DC na série.
Dini teve a ideia da história de origem para a então nova capanga do Coringa e Timm sugeriu que fosse feita em quadrinhos, o que foi aprovado pela DC. Intitulada de Louco Amor, a HQ saiu em 1994 e mostra Harleen Frances Quinzel como uma psiquiatra que “tratou” o Coringa no Asilo Arkham, mas acabou se apaixonando pelo paciente. Alguns anos depois, a história foi adaptada para a TV de forma bem semelhante.
No Brasil, Louco Amor saiu em 1995, nos formatinhos da editora Abril em duas edições, na revista Batman – O Desenho da TV #14 e #15. Em 2002, a Opera Graphica lançou em volume único, P&B. Hoje, a melhor opção de acesso é o álbum de luxo Batman: Louco Amor e Outras Histórias (2017), que traz mais nove trabalhos de Dini e Timm.
Louco Amor tem 64 páginas, mantendo todas as características da série televisiva. Foi o primeiro quadrinho de fôlego de Bruce Timm. Na HQ, os autores puderam ter um pouco mais de liberdade nos momentos de violência e insinuações sexuais de Arlequina, o que não cairia bem num desenho infantil.
Curiosamente, a trama foi desenvolvida por Timm e Dini durante vários almoços e jantares num restaurante/bar chamado The Paradise, local que aparece na HQ.
A HQ mostra Harleen como psicóloga do Coringa no Asilo Arkham, quando se apaixona
Qual a trama de Louco Amor de Paul Dini e Bruce Timm
O roteiro traz duas histórias. A “atual”, onde Coringa e Arlequina vivem uma crise no relacionamento, e a de origem, por meio de flashbacks da memória dela do início do romance.
Harleen teve uma bolsa para esportistas na Universidade Gotham State. Em uma análise de dados da Batcaverna, Bruce Wayne traz alguns elementos do passado da personagem, que conseguiu o diploma de psicologia de formas escusas, mesmo com notas baixas e não gostando de estudar.
De início, após ter um plano desmantelado pelo Batman, Coringa fica ávido por finalmente matar o Morcego. O problema é que, nessa obsessão, não retribui em nada a atenção de Arlequina – mesmo tentando seus melhores meios de sedução –. Ela sugere dar um tiro no Batman, mas Sr. C, impaciente, explica que o evento deve ser uma “obra-prima. O triunfo final do meu gênio cômico sobre aquela máscara ridícula.”
Nas lembranças dela, vamos para o dia em que a psicóloga começou no Asilo Arkham, por decisão própria, deslumbrada com o “glamour” dos supercriminosos. Após ver o Coringa pela primeira vez através do vidro de contensão, encontra um bilhete em sua sala: “venha me ver uma hora dessas, C.”
Ela não parece muito interessada, até ele sugerir que pode compartilhar seus segredos. Na primeira sessão, o vilão conta como teve uma infância sofrida, vítima da violência do pai. No decorrer dos encontros, sensibilizada, a jovem pressupõe que o Coringa era na verdade “uma alma frágil e machucada, implorando por amor e atenção.”
O sonho de Arlequina era uma vida a dois com Sr. C, mas Batman estava no meio
Ali, Harleen já se admite apaixonada e começa a chamá-lo de “anjinho”. Após uma fuga, Batman o traz todo surrado para o Arkham. Aquilo atinge a protagonista e é a virada de chave. Ela rouba as vestes de arlequim em uma loja de fantasias e coloca em ação seu plano de salvar o Coringa.
Voltando para o presente, Arlequina só encontra uma forma de aquecer o coração do palhaço e trazer a atenção dele toda para si: matar Batman e tirar o herói de seu caminho. Em um píer, encontra-se com o Cavaleiro das Trevas prometendo ajudá-lo a capturar o Sr. C, que desta vez “ficou louco de verdade” e irá se vingar de toda a cidade.
Com a isca e uma facilidade que Joker nunca teve, a psicóloga consegue capturar o Batman, aprimorando em seguida um plano descartado do próprio Coringa – quando aparece o The Paradise –. A sequência da história tem ótimas surpresas, mas deixarei você descobrir com a leitura, caso ainda não tenha feito.
Vale a pena ler?
A arte cartunesca de Bruce Timm é conhecida e aclamadíssima. Com a série animada, apresentou o que seriam os traços do Batman para toda uma geração de jovens e crianças nos anos 1990 – me incluo nisso –. O enredo de Louco Amor é simples e criativo, na medida certa, seguindo os padrões do desenho.
No quadrinho, os autores puderam fazer Arlequina mais sensual e provocativa que na animação infantil
Porém, nas entrelinhas existem diversas complexidades. Não deixa de ser interessante que a vilã foi uma sacada incrível ao abordar, no Coringa, aquela característica denunciada em diversos psicopatas: a inteligência e sedução por vezes capaz de enganar os próprios profissionais da psicologia e da psiquiatria.
Dini e Timm trabalham ainda o tema dos relacionamentos tóxicos e abusivos – na versão televisiva, inclusive, há uma cena chocante em que ela cai de um prédio –. Segundo Timm, Louco Amor foi baseado na história de uma amiga deles, casada com um homem que tinha uma obsessão pessoal e não retribuía o amor da mulher, embora não houvesse a parte da violência na vida real.
A dupla de quadrinistas tem habilidade em tocar nessas temáticas sem tirar a leveza e o humor do desenho animado. O Coringa, vale dizer, é bem cômico, atrapalhado e fanfarrão, apesar de cruel, lembrando a clássica versão de Cesar Romero. Até o Batman tem sacadas engraçadas que se encaixam bem na proposta.
Por tudo isso, em 1994, Louco Amor recebeu o Prêmio Eisner na categoria “Melhor Edição Única”
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Créditos:
Texto: David Horeglad – @hq_ano1
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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