A vida de trabalhadores japonês em um “navio-fábrica caranguejo” é o tema da obra Kanikosen de Gō Fujio e Takiji Kobayashi. O mangá é uma adaptação do famoso livro de Takiji Kobayashi (também creditado no mangá) de 1929. As péssimas condições de trabalho do navio e seus confrontos com o superintendente Asakawa são os motores dessa trama que trazem uma realidade de trabalho cruel em um ambiente pouco conhecido no ocidente.
Kanikosen de Gō Fujio e Takiji Kobayashi, também chamado no Brasil de O Navio dos Homens, foi publicado no Brasil em 2021 pela editora Veneta. A obra, que possui pouco mais de 150 páginas, ganhou uma série de extras que nos ajudam a entender mais do contexto no qual a trama está inserida.
Curiosidades para o leitor: O livro adaptado pelo mangá foi, durante muito tempo, proibido no Japão mas a proibição só veio após o livro vender mais de 15.000 cópias. Vale dizer que o livro, proibido no passado, já ganhou versões para o cinema em 1953 e 2009.
A trama do mangá começa mostrando a morte de Takiji Kobayashi. O autor do livro de fato perdeu sua vida por conta de sua obra que traz uma realidade cruel que não deveria vir a tona. O escritor foi preso, brutalmente torturado e, por fim, assassinado pela polícia com apenas 29 anos.
O nome da obra, Kanikosen, quer dizer literalmente navio-fábrica caranguejo – que é onde toda a trama se desenrola.
Um navio no meio do oceano é o cenário do mangá Kanikosen de Gō Fujio e Takiji Kobayashi
A trama de Kanikosen de Gō Fujio e Takiji Kobayashi
Kanikosen, o Navio dos Homens, é um mangá que não possui um protagonista. Por mais que tenhamos personagens que eventualmente se destacam, a obra foca mesmo é no confronto que existem entre as classes que habitam no tal “navio-fábrica caranguejo”.
Humilhações, condições de trabalhos sub-humanas e salários irrisórios são os grandes destaques de uma trama que fala sobre revolução e sobre a união da maioria.
Ao adaptar o livro de Takiji Kobayashi, Gō Fujio faz questão de manter o enfoque nas condições de trabalho do navio – por mais que no começo e no final da obra tenhamos uma representação da morte do escritor do material original.
Os maus tratos frequentes dos trabalhadores, feitos principalmente pelo superintendente Asakawa, são o grande motor da trama que mostra a transformação de trabalhadores sadios em moribundos que estão vivendo um inferno em vida.
Maus tratos físicos e psicológicos são frequentes no mangá Kanikosen de Gō Fujio e Takiji Kobayashi
Ao ler a obra é impossível não pensar: Porque esses trabalhadores, muito mais numerosos do que seus algozes, estão se sujeitando a essa situação? O mangá mostra um cenário crescente de insatisfação e faz questão de mostrar os artifícios que os donos do navio utilizam para manter seus trabalhadores engajados com o serviço (a forma como o sentimento nacionalista é usado frequentemente é nagativamente impressionante).
Quando a insatisfação atinge seu ápice, vemos que fazer um levante ou uma “revolução” não é tão simples quanto parece, mesmo em um navio. Existe uma reviravolta final que surpreende e “embrulha o estômago” de quem lê a obra.
Kanikosen, o Navio dos Homens é o tipo de obra que causa repulsa em quem lê. No decorrer da trama vemos diversos trabalhadores encontrarem seu triste fim nas águas do mar de Okhotsk e a forma como esses mortos são tratados é revoltante.
Doenças, cansaço e outros motivos para “não trabalhar” simplesmente não tem vez com o superintendente Asakawa, que é o grande “carrasco” do navio.
O superintendente Asakawa maltrata os trabalhadores do mangá Kanikosen de Gō Fujio e Takiji Kobayashi
Kanikosen de Gō Fujio e Takiji Kobayashi é o tipo de mangá que nos deixa pensativo após a leitura. A obra narra a maldita jornada de trabalhadores que precisando do sustento se envolvem com uma atividade que é, de muitas maneiras, pior do que a morte.
Um mangá que nos mostra uma realidade dura e cruel em um cenário que a grande maioria de nós nem sabia que existia. Uma leitura rápida com um ritmo impressionante que não vai sair da sua cabeça.
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Avaliação: Excelente!.
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Créditos:
Texto: Lucas Souza
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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