Violência, sangue e muitas situações nonsense esperam pelo leitor na série Fury por Garth Ennis Vol.1. Vale lembrar que a série fazia parte do antigo selo Marvel Max e por isso seus “limites” eram praticamente inexistentes. O selo era território fértil para histórias mais adultas e essa série de Ennis traz justamente isso para o Coronel Nick Fury.
A série Fury escrita Garth Ennis teve 13 números mais minisséries. A edição Fury por Garth Ennis Vol.1 lançada pela Panini Comics em 2023 traz as seis primeiras edições da série (que trazem um arco completo) e a mini-série Fury Peacemaker de seis edições (uma espécie de “Nicky Fury Ano Um”). Vale dizer que as tramas do encadernado estão fechadas e mesmo sabendo que existe uma continuação, a realidade é que não temos grandes ganchos para ela – se você ficar satisfeito com o que leu e não quiser pegar o segundo volume pode parar sem problemas.
Vale salientar que Garth Ennis está muito bem acompanhado nesta série de 2001 quando o quesito é arte e temos nomes como Darrick Robertson, Jimmy Palmiotti e Raúl Trevino cuidando da arte e das cores. As capas de Bill Sienkiewicz, Mike Deodato Jr. e Steve Dillon dão um charme adicional!
Dica para o leitor: Quer conhecer os grandes trabalhos desse autor que está acostumado a chocar o leitor? Confira nossa lista de Melhores HQs de Garth Ennis
O protagonista e um antigo inimigo relembram os velhos tempos no começo da HQ Fury por Garth Ennis Vol.1
As tramas da HQ Fury por Garth Ennis Vol.1
Para começar é preciso dosar as expectativas do leitor. Ennis não inova nada e o que vemos é uma repetição da fórmula que fez tanto sucesso em trabalhos como Preacher e Bem-Vindo de Volta Frank! e The Boys. A ideia não é trazer uma violência super realista com questões reais envolvidas na trama.
Aqui vemos o Ennis debochado que trata a violência e suas consequências com um certo escárnio. Pessoalmente, adoro essa faceta do autor mas é inegável que após ler outras obras onde ele se vale dos mesmos argumentos, a leitura parece meio repetitiva. Não foi um problema para mim, mas os leitores que esperam algo diferente com características mais inovadoras (na linha do Justiceiro Max dele) talvez se decepcionem.
Dito isso, vamos falar do primeiro arco. Fury está entediado e se lembra com carinho do passado. Ele é visto cada vez mais como uma “carta fora do baralho” – um “dinossauro” de outros tempos que não tem lugar no novo mundo cibernético e tecnológico.
Gagarin é um antigo russo inimigo de Nick mas depois de muitos anos eles se sentam para beber e relembrar os velhos tempos. Assim como Fury, Gagarin tem saudade dos tempos de guerra e parece também não se adaptar ao novo mundo. Ele propõe ao Coronel que eles se movam para iniciar uma nova guerra – proposta que obviamente é recusada pelo nosso protagonista.
O protagonista descobre que Gagarin está tentando iniciar uma nova Guerra na HQ Fury por Garth Ennis Vol.1
Fury ignora a proposta de Gagarin e seu plano imaginando que se trata apenas de uma bravata do vilão. Infelizmente não era e logo vemos Gagarin virar “consultor” de um ditador de uma pequena ilha e com isso começam uma série de incidentes internacionais. Chegou a hora de agir e é aqui que a violência, especialidade de Ennis, começa forte!
A partir desse ponto vemos o desenrolar tradicional que é esperado da trama: Fury é autorizado pela SHIELD a ir até a tal ilha com um pequeno time capacitado para a missão – que é parar as ações de Gagarin e do iludido ditador. Tripas, sangue, sexo e cenas chocantes esperam pelo leitor nesse arco. O ritmo é intenso e ágil, característica conhecida do autor.
O sobrinho do protagonista é destroçado por tigres na HQ Fury por Garth Ennis Vol.1
Vale dizer que Ennis é capaz de criar uma história marcante, ainda que sem inovação para aqueles que conhecem seu trabalho, com ótimos protagonistas. Seu sobrinho “bobão” e o novo e burocrático “comandante” da SHIELD, Li, são fontes constantes de irritação para Fury – eles acabam dando o ar cômico da história.
Se nesse primeiro arco vemos a veia mais cômica de Ennis, na minissérie Fury Peacemaker vemos uma história mais complexa e séria que trata da origem do personagem-título. Estamos no meio da 2ª Guerra Mundial e vemos Fury descobrir que seu treinamento não ajuda muito no campo de batalha. Derrotas amargas e situações diferentes do que ele imaginava se apresentam de forma constante nessa trama.
Situações tensas de guerra são uma constante na minissérie Fury Peacemaker
A evolução de Fury e sua resiliência o colocam em um esquadrão “diferente” que atua com regras mais flexíveis e normalmente se encontra atrás das linhas inimigas. O caos que o protagonista e seus companheiros causam move a trama até seu desfecho – que envolve comandantes alemães de alta patente e até Hitler.
A violência e a morte são tratadas de forma mais “séria” nessa obra e o tom caricato do arco citado anteriormente dá lugar a uma sensação de desespero e perigo constante que é potencializada pela paranóia que vai, pouco a pouco, tomando conta dos personagens.
O ritmo ainda é acelerado mas bem menos frenético do que a trama anterior e planos e decisões mais complexas se apresentam. Pessoalmente achei que as duas tramas funcionam e mostram como Ennis é capaz de trabalhar histórias de ação em cenários similares de formas bem distintas.
Uma unidade de soldados americanos enfrenta um tanque na HQ Fury por Garth Ennis Vol.1
Infelizmente achei que o Coronel Fury representado pelo autor não consegue se diferenciar de outros “brucutus” das HQs – como o Justiceiro. Ele é a representação do “homem de um exército só que faz tudo do jeito que acha certo” e é isso – sem particularidades que o tornem único. Nesse quesito esperava um pouco mais da construção do protagonista. Não é um problema grave mas me peguei pensando que se mudássemos o personagem principal para Castle, Rambo e outros não faria a menor diferença na narrativa…
Fury por Garth Ennis Vol.1 é uma obra que vai agradar em cheio os fãs do autor e os fãs de uma boa história de ação. O elemento “surpresa” infelizmente falta nos dois arcos que são entregues mas isso passa longe de estragar a experiência. Ennis cria boas situações de confronto e exagera, como sempre, na representação gráfica da violência – o que é ótimo!
Uma boa amostra do que o selo Max deixava os autores entregarem!
Avaliação: Bom!
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Créditos:
Texto: Lucas Souza
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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