Como entender a essência dos três primeiros Robins

Em 21 de Mai de 2021 • 11 minutos de leitura
Como entender a essência dos três primeiros Robins

Praticamente todo mundo conhece o Robin, eterno parceiro mirim do Cavaleiro das Trevas. Mas muitos fazem confusão com os diferentes personagens que usaram o uniforme vermelho e verde, principalmente quando estão começando a ler as HQs do Batman.

Entre os anos de 1988 e 1989, os roteiristas de Batman (1940) – as lendas Marv Wolfman e Jim Starling – conseguiram sintetizar muito da essência de cada um dos três primeiros Robins em histórias quase sequenciais da revista. Isso aconteceu de forma estratégica em um momento de passagem de uniforme do impopular Jason Todd, segundo Robin, para Tim Drake, o terceiro, que conquistou muitos fãs a partir dos anos 1990.

Essas histórias saíram entre as revistas de número #426 e #444 do Batman (1940). Existem muitas formas de ter acesso a elas, mas uma das mais fáceis é com dois encadernados da Panini: “Clássicos DC Comics: Batman – Morte em Família” e “As muitas mortes de Batman e outras histórias”.

Quer saber quais são essas aventuras e por que são tão interessantes para conhecer os Robins? Vamos lá!

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Como entender a essência dos três primeiros Robins

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Dick Grayson, o primeiro

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Como entender a essência dos três primeiros Robins

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Dick Grayson surgiu na longínqua revista Detective Comics #38 de 1937, com roteiro de Bill Finger e desenhos de Bob Kane – criadores do Batman –. Nela, já somos apresentados à história de origem do primeiro “menino prodígio”.

O garoto e sua família eram acrobatas romani – grupo de ciganos indo-europeus – do Circo Haly. O dono do grupo circense, Sr. Haly, se recusa a pagar por proteção ao gangster Tony Zucco, que em represália sabota os trapézios do picadeiro, causando a morte dos pais de Dick. Com sede de vingança, o órfão acaba se juntando ao Batman para fazer justiça.

Essa mesma origem é recontada por meio de flashbacks com ainda mais detalhes em Batman: Ano Três. O arco foi publicado nas revistas #436 a #439 de Batman (1940) em 1989, com roteiro de Marv Wolfman e arte de Pat Broderick, presentes no encadernado “As muitas mortes de Batman e outras histórias”.

Nesta revisão, muitas informações são encaixadas à trama, como a primeira aparição de Tim Drake – antes mesmo de Grayson virar Robin –, o que tem uma importância considerável na história; o trâmite que Bruce Wayne enfrentou para ser o tutor legal do jovem – processo dificultado pela fama de playboy inconsequente do milionário  –; e o aprofundamento da relação inicial entre os dois.

Ao mesmo tempo em que temos acesso ao passado de Dick Grayson, existe uma trama no que seria o período “atual” da HQ: o terceiro ano do Batman em ação. Diversos chefes do crime de Gotham estão sendo assassinados. A defesa de Zucco busca a liberdade condicional do vilão. A suspeita é a de que Zucco estaria colocando em prática um plano para se tornar o líder do crime organizado na cidade.

As principais características do primeiro sidekick de super-heróis ficam muito evidentes em Batman: Ano Três. Grayson é o Robin acrobata, cuja fantasia circense serviu de inspiração para o uniforme de herói – talvez o único dos três que empregou suas características à simbologia do Robin –.

A forma física dele se destaca, pois é a soma da experiência no picadeiro com o treinamento do Batman, que lhe conferiu ainda habilidades como detetive e com as artes marciais. A sede de justiça somada ao equilíbrio acaba tornando Grayson o Robin com maior capacidade de liderança.

Batman: Ano Três também é marcado por um comportamento insano e introspectivo do Batman, fruto dos acontecimentos do arco apresentado a seguir.

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Jason Todd, o segundo

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Como entender a essência dos três primeiros Robins

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Já não é mais spoiler para ninguém que Morte em Família (1988), publicada originalmente em Batman (1940) #426 a #429, conta como o segundo Robin, Jason Todd, é assassinado pelo coringa com um pé-de-cabra. O personagem surgiu em Batman (1940) #357, de 1983, mas vestiu um uniforme e lutou pela primeira vez – ainda antes de seu treinamento – na Detective Comics (1937) #526, no mesmo ano.

Na época, Jason surgiu para tapar o buraco do Robin anterior, àquela altura mais maduro e residindo na Torre Titã. A história, a princípio muito semelhante à de Dick Grayson, foi totalmente reformulada após a saga Crise nas Infinitas Terras (1986). A nova origem do menino prodígio foi contada em Batman (1940) #408 e #409, de 1987.

Desta vez, Todd era um pequeno criminoso que vivia em um prédio abandonado na parte oeste de Gotham, e Batman o conheceu roubando os pneus do batmóvel no Beco do Crime. As habilidades do garoto logo fizeram Wayne concluir que poderia ter um novo Robin.

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Em Morte em Família, Bruce Wayne chega à conclusão de que Todd ainda não está preparado para ser o Robin. Nas palavras do Morcego, “ele tem uma agressividade perigosamente intensa a ser descarregada.” É bem verdade que Dick teve seus momentos de desobediência. Mas Jason, durante as batalhas, agia com raiva e não limitava suas ações, o que faz Batman o tirar da função de sidekick.

Novamente pelo recurso de flashbacks, durante algumas reflexões de Wayne, conhecemos o histórico do segundo Robin. Seu pai era um criminoso que havia sido morto pelo Duas-Caras, para quem trabalhava, e sua mãe faleceu vítima de uma grave doença – o que em outras publicações é esclarecido como um vício em drogas –.

É assim que percebemos que, diferente de Dick, Jason não teve a primeira infância em uma família estruturada. Enquanto o menino prodígio anterior teve serenidade para reverter o trauma pela morte dos pais em ações bem-sucedidas ao lado do Batman, o garoto do Beco do Crime não teve maturidade para canalizar sua raiva e assumir as responsabilidades de um herói.

Após a suspenção do uniforme, em uma volta ao antigo bairro, Jason reencontra uma amiga da mãe, Dona Walker. Ela havia resgatado uma caixa com fotos e documentos antigos da família e devolveu ao garoto. Entre os achados, uma certidão de nascimento com o nome da mãe riscado e, ao invés de “c” de Catherine Todd, a letra inicial parecia um “s”.

Cruzando informações de endereços de seu passado e nomes com a letra “s”, Todd chegou à três mulheres: Sharmin Rosen, que migrou para Israel, Shiva Woosan, mercenária que atuava no Líbano, e Dra. Sheyla Haywood, que trabalhava em ações contra a fome na Etiópia. Assim, acompanhamos toda a busca e investigação de Jason Todd, com as emoções à flor da pele, para encontrar as três mulheres e descobrir quem é sua mãe biológica.

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Como entender a essência dos três primeiros Robins Coringa mata Robin: uma das cenas mais impressionantes da história dos quadrinhos

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Mas e o Coringa? Morte em Família marca uma das muitas voltas do palhaço após se ver livre do Asilo Arkham. Sem dinheiro, o arqui-inimigo do Batman procura vender seu último recurso, um míssil nuclear que ficou escondido durante a estadia na casa de reabilitação.

Em que outro local ele teria receptividade para esse tipo de negócio senão na belicosa região do Oriente Médio? Estereótipos à parte, é por lá que, claro, os objetivos de Batman, Coringa e Jason Todd acabam se cruzando.

Na época da publicação, o personagem não era muito bem visto pelos fãs. Pensando nisso e em trazer uma novidade ao público, o lendário Denny O’Neal – então editor da revista – resolveu deixar o fim da história a cargo dos leitores. Dependendo do número de telefone que o DCnauta ligasse, o voto seria contabilizado para o sucesso ou o insucesso do Coringa na tentativa de matar Robin.

Se por um lado parece uma história de efeito com um final catastrófico e interação com os leitores apenas para aumentar vendas – e em parte é –, a verdade é que Morte em Família tem um roteiro bem construído e emocionante, onde conseguimos adentrar nos conflitos internos de Jason.

Com Jim Starling nos textos e Jim Aparo nas artes, a principal característica de Todd fica muito transparente: o desequilíbrio emocional, fruto dos traumas da vida, da carência e de sua própria subjetividade.

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Tim Drake, o terceiro

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Como entender a essência dos três primeiros Robins

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Um Lugar Solitário Para Morrer (1989) é o arco responsável pelo surgimento de Tim Drake, terceiro Robin. Saiu intercalado entre as revistas #440 e #442 de Batman (1940) e #60 e #61 de The New Titans (1988).

O roteiro é de Marv Wolfman e George Pérez e a arte é dividida entre Jim Aparo e Mike DeCarlo nas revistas do Batman e pelos próprios roteiristas para os Novos Titãs. O arco completo está no encadernado “Clássicos DC Comics: Batman – Morte em Família”.

Conforme vimos em Batman: Ano Três, o Morcego está muito impactado pela morte de Jason Todd. Mais sombrio, agressivo e inconsequente. De acordo com Alfred, o patrão, que antes passava mais tempo planejando do que de fato em ação, estava pensando mais com os punhos do que com a cabeça.

Imagine agora um garoto que, aficionado pela dupla Batman e Robin, deduziu, sozinho, muitos dos segredos de Wayne, Grayson e Todd, inclusive o alter ego de cada um deles e onde moravam. Esse é Tim Drake.

A intenção do futuro menino prodígio – e como o apelido vale no caso dele – era convencer Dick Grayson a voltar a ser Robin, com o argumento de que o Batman precisa de seu ajudante mirim para retornar à sanidade mental e agir como o herói que é.

Asa Noturna está em outra, envolvido com os Novos Titãs e consentindo sobre a decisão do Batman de que, com a morte de Jason, Robin também havia morrido. Mas Tim Drake estava certo. Batman precisa do Robin e a solução óbvia era a de que o jovem tinha as qualidades necessárias para ser o novo ajudante.

Como convencer o distanciado Batman – traumatizado e com o fardo de se achar responsável pela morte de Todd – a aceitar que Drake fosse treinado e assumisse o posto? Tim Drake era persistente, tinha bons argumentos e provou na prática sua competência, participando da resolução de uma disputa entre Batman e Duas-Caras que serve de linha condutora da HQ.

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Como entender a essência dos três primeiros Robins “O Batman precisa do Robin”, Tim Drake tenta convencer o conflituoso Morcego

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A sequência direta dessa história, presente em Batman (1940) #443 e #444, de 1990, contém o início do treinamento de Drake – que devido ao medo de Wayne seria o mais longo entre os Robins –, diante do surgimento de um vilão chamado de Engenheiro do Crime. Marv Wolfman e Jim Aparo seguem na produção, reimpressa no encadernado “As muitas mortes de Batman e outras histórias”. Este e todos os arcos citados foram coloridos pela Adrienne Roy.

E assim vemos que Tim Drake já nasce com uma personalidade forte e formada. Ele pode ser considerado o mais inteligente dos três Robins, um clássico “CDF”. É o único que obedecia a todas as ordens do Batman e não tinha um histórico de traumas. Era um personagem mais leve, idealista e excelente detetive, sobretudo quando atrás do computador – em uma posição semelhante à da Oráculo, o que é reforçado em edições futuras –.

Grayson, Todd e Drake receberam um treinamento semelhante do Batman. Logo, todos são competentes em investigação, artes marciais, tecnologia, entre tantas outras coisas. Mas é a essência de cada um que os diferencia e que os faz serem mais destacados que os outros em determinadas áreas. Muito em vista do que carregavam antes de vestir o uniforme.

Tudo isso fica muito bem delineado em “Clássicos DC Comics: Batman – Morte em Família” e “As muitas mortes de Batman e outras histórias”. Aqui, cabe uma dica de leitura. O ideal é seguir o número das publicações na ordem crescente de Batman (1940), intercalando os encadernados.

Existem diversas outras publicações para conhecer mais todas as nuances dos três personagens. Inclusive as que trazem o futuro de cada Robin, como Asa Noturna, Capuz Vermelho e Drake – sim, este é o criativo “nome de guerra” de Tim nas atuais revistas da Justiça Jovem (2019) –. Tanto o Asa Noturna quanto o Capuz Vermelho têm suas séries próprias sendo publicadas no Brasil.

E na sua opinião, qual deles é o melhor Robin: Tim, Dick ou Jason?

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Créditos:
Texto: David Horeglad – @hq_ano1
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse

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