Espinhela Caída de Tiago Holsi – O Ultimato

Em 30 de Jun de 2023 • 5 minutos de leitura
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Conheça o quadrinho que destrincha a criação de uma HQ na época da pandemia em: Espinhela Caída de Tiago Holsi

Espinhela Caída é uma HQ autobiográfica de Tiago Holsi, que se desenha em forma de esqueleto. A obra saiu conjuntamente pelas editoras Céleblo Comics e Mmarte em 68 páginas, P&B, no ano de 2022. Nela, a metalinguagem é usada para narrar como o isolamento social afetou o processo de produção de Holsi, além de apresentar um manual de como fazer um quadrinho independente.

O título vem de uma tradição popular. Espinhela seria um ossinho mais ou menos na altura do processo xifoide. O local pode desconjuntar, causando dor no corpo e cansaço, e apenas as benzedeiras conseguiriam curá-lo.

Qual a trama de Espinhela Caída de Tiago Holsi

Iniciamos com Tiago Holsi despedaçado, juntando cada osso de seu esqueleto. Ele logo adverte que o ato é simbólico: o que precisa ser reconstruída é sua mente. E é essa reconstrução que acompanhamos na HQ.

O quadrinista ficou quase dois anos sem produzir, mesmo com um estúdio confortável e adequado em casa. A época é a da pandemia de covid-19, e Holsi rememora a vida em tempos de medo, principalmente em lugares públicos.

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O quadrinista se desenha como um esqueleto, analogia para a mente, exposta na HQ

Junto com o isolamento social, os hábitos sedentários e as horas de mau posicionamento na prancheta resultaram em problemas físicos e psíquicos – eis aqui onde aparece a espinhela caída –. É angustiante acompanhar os paradoxos mentais e autossabotagem de Holsi. Um exemplo é a sensação de burnout exigindo descanso enquanto surgia o sentimento de condenação por querer produzir mais.

Lógico, com tudo isso, aumenta a instabilidade financeira e, para piorar, Sheila, esposa do quadrinista, estava grávida de seu segundo filho. Meses cheios de preocupações, independentemente do contexto. Holsi expõe um pouco da paternidade e da relação com a família nesse período. A fase das dezenas de lives também é lembrada por ele.

Em determinado momento, em meio ao bloqueio criativo, Holsi percebe que aquela situação poderia se transformar no tão buscado quadrinho autoral. É quando ele decide relatar o próprio sofrimento, pôr em palavras – ou em quadros –, transformando a dor em arte.

Na segunda parte de Espinhela Caída, Holsi descreve as etapas de produção de um quadrinho, sobretudo no caso dos profissionais independentes. Nem tudo são flores. Os bicos, necessários, precisam ser administrados para não atrapalharem a criação da HQ – um terror –.

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Holsi desenha quadrinistas nacionais em forma de caveira, uma das páginas mais divertidas da obra

O esqueleto vai nos conduzindo desde o início do trabalho, com a escolha dos traços e os estudos de referências, sejam de livros teóricos e técnicos, dos sites e podcastings sobre quadrinhos ou do trabalho de outros autores. A maioria nomeados e desenhados, para que possamos correr atrás, caso não os conheçamos.

Holsi mostra, ainda, a sistemática das plataformas de financiamento coletivo e o papel das convenções e das lojas de quadrinhos. Assim, Espinhela Caída acaba se tornando um manual resumido de produção e venda de HQs independentes.

Na reta final, o autor evidencia uma luz no fim do túnel, com o surgimento da vacina, o novo projeto em andamento, o apoio de colegas e leitores, a convivência com a família…

Vale a pena ler?

Quem gosta de HQs normalmente já teve contato com obras sobre quadrinistas, autobiográficas ou não. Impossível não citar Maus: a história de um sobrevivente (1980-1992), que elevou o recurso da metalinguagem nos quadrinhos como elemento de expressão. Em Espinhela Caída, os ratos foram substituídos por um esqueleto, mas este só para o protagonista mesmo.

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A virada de página é quando Holsi decide transformar todo o caos em arte

Aliás, essa ideia e o título dão singularidade à HQ. Tanto a analogia do interior desnudado de Holsi quanto a impossibilidade, segundo a crença popular, de diagnóstico médico para espinhela caída, são ótimas sacadas. Oras, crises psíquicas aparecem em alguma ressonância magnética?

E apesar de Holsi tratar de experiências pessoais, existem paralelos e semelhanças ao que todos nós vivenciamos. Infelizmente, parece que burnout, síndrome de impostor e ansiedade se alastraram tanto quanto qualquer vírus.

A arte de Holsi, de traço limpo e grosso, é cartunesca e lúdica. Funciona muito bem contrastando com o peso do tema da HQ. Dois destaques interessantes são um jogo de tabuleiro onde o caminho de chegada leva ao burnout, semelhante a um infográfico de página dupla, e a versão em caveira de diversos quadrinistas nacionais, como Laerte e Lourenço Mutarelli.

Espinhela Caída é uma obra honesta, onde o autor revela seu interior, reflexões e sentimentos. Nos relembra de uma época desfavorável, porém, sem deixar de lado o bom-humor e a esperança. Ajuda a conhecer o lado de quem faz os quadrinhos.

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Avaliação: Ótimo!

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Créditos:
Texto: David Horeglad – @hq_ano1
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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