Tokyo Ghost apresenta um mundo distópico e futurista que todo fã de ficção científica vai querer conhecer. A obra conta com roteiro de Rick Remender (conhecido por seus trabalhos na Marvel, como Fabulosos Vingadores) e arte de Sean Murphy (Vampiro Americano; Batman: Cavaleiro Branco). A história completa, que começou a ser publicada pela Image em 2015 e contou com 10 volumes, foi lançada em 2019 no Brasil em formato capa dura pela editora Darkside.
A primeira edição de Tokyo Ghost é um verdadeiro “soco”. Mas acho que o impacto só é verdadeiramente compreendido na edição #3, assim que você descobre o tema central da HQ. Somos apresentados ao casal Debbie e Led Dent. Os dois fazem parte de uma espécie de força policial de controle que tem como objetivo manter os cidadãos de uma Los Angeles futurista na linha. Até aqui, tudo bem tradicional e previsível, certo? Errado!
Led Dent e Debbie vivem em uma futurista Los Angeles em Tokyo Ghost.
A História de Tokyo Ghost
O futuro de Debbie e Led Dent é diferente do que já vimos em outras obras de ficção científica. Por mais que a ideia de um futuro no qual os homens são dependentes das máquinas e vivem longe do mundo real já tenha sido bem explorada em outras obras, como por exemplo Matrix (1999), a forma como ela é retratada e desenvolvida em Tokyo Ghost faz muita diferença.
Aqui vemos os seres humanos cada vez mais dependentes de seus programas, feeds e transformações corporais de forma que eles praticamente não se importam com mais nada. As primeiras interações de Debbie com seu parceiro Led mostram bem isso: o gigante está tão entretido com seu mundo virtual que mal executa o que sua parceira pede e mais parece um zumbi do que um ser humano comum.
Conforme as edições da história de Rick Remender avançam é possível perceber mais nuances da sociedade e entender como esse mundo chegou a esse ponto. Logo na primeira edição vemos uma loja que transforma o corpo dos cidadãos para que eles sejam da forma como acreditam que devem ser.
O distanciamento da realidade só vai evidenciando mais a válvula de escape que o virtual se tornou – o assustador é perceber o quanto isso dialoga com o nosso mundo atual e a fluidez com a qual o roteirista mostra isso na HQ é impressionante. O nível de detalhes e a forma como os personagens narram o vício em tecnologia são o que mais chamam a atenção.
Davey Trauma enfrenta Debbie em uma das muitas cenas de ação em Tokyo Ghost.
Nem só de uma boa ideia vive a construção de uma história memorável. Tokyo Ghost é também muito hábil em nos conectar com a história de Led Dent e Debbie. Logo na primeira edição descobrimos o vício cibernético de Led e entendemos que, liderados por Debbie, eles estão fazendo uma última missão para poder ir embora para Tokyo – uma cidade livre de tecnologia. As reações de viciado de Led, junto aos flashbacks que explicam a história dos dois, somam-se a mudanças de direção constante na história fazendo com que a HQ nunca caia na mesmice. Quando imaginamos que sabemos para onde Rick Remender está nos levando, temos um plot twist que muda tudo.
Impossível não destacar o quão bem os desenhos de Sean Murphy encaixam na história. Ele já tinha me impressionado desenhado o mundo distópico de O Despertar (The Wake, 2013) [saiba mais] e aqui não é diferente – o desenhista parece perfeito para histórias aventurescas em mundos futuristas. Algumas páginas duplas, principalmente de Tokyo, fazem com que o leitor perca algum tempo admirando a arte de Tokyo Ghost.
Led Dent e Debbie são recebidos em Tokyo na HQ da Image Tokyo Ghost.
Toda boa HQ precisa de um vilão ou uma ameaça respeitável. Na história de Rick Remender e Sean Murphy, a ganância humana faz esse papel – ora nas atitudes do magnata Sr. Flak, ora nas atitudes de Davey Trauma. Independente de quem, Tokyo Ghost mostra que a necessidade de ter mais conforto, de ser melhor do que os outros e de ser reconhecido/adorado é o grande problema da humanidade.
É interessante perceber como Remender criou uma história que pode ser entendida apenas como uma aventura sci-fi ou como uma grande crítica aos caminhos que a nossa sociedade vem tomando – depende do leitor.
Uma das muitas belas páginas de Sean Murphy na HQ Tokyo Ghost da Image Comics.
Tokyo Ghost apresenta um futuro distópico diferente. Nele, os humanos se perderam e viraram meros reféns do entretenimento e do conforto – sempre apáticos. Apesar da premissa grandiosa, o grande motor da história é a relação de afeto entre Dent e Debbie e a luta constante deles contra o vício.
Vale destacar que a HQ nunca segue pelo caminho que a gente imagina e seus cenários e direções mudam drasticamente ao menos três vezes durante a obra. Remender deixa um grande gancho para uma continuação que seria muito bem-vinda, uma vez que visitar esse mundo novamente seria muito bom!
Procurando uma obra curta com uma história original em um futuro distópico? Quer enxergar os possíveis males da tecnologia e se deparar com uma história de companheirismo e esperança? Então o mundo de Tokyo Ghost é exatamente o que você quer!
Créditos:
Texto: Lucas Souza
Imagens: Reprodução
Edição: Alexandre Baptista
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