The Black Monday Murders é simplesmente uma das ideias mais diferentes, com uma execução muito competente, que já tive a oportunidade de ver em uma HQ.
O escritor Jonathan Hickman se une ao artista Tomm Coker para dar vida a uma história que foge do tradicional – seja nos roteiros ou no próprio formato da narrativa gráfica.
The Black Monday Murders começou a ser publicado pela Image Comics em 2016 e conta com oito edições até o momento: a série não foi concluída em função das questões de saúde de Tomm Coker que fizeram com que a mesma entrasse em um hiato…
Esperamos que ele melhore e retorne em breve para seguir com a saga!
Apesar disso é importante salientar que o que já foi lançado contempla um arco completo – mesmo que deixe pontas e perguntas em aberto para próximas edições.
No Brasil, a Devir publicou as edições originais (todas as oito) em encadernados The Black Monday Murders #1 e #2 – disponíveis em capa dura ou capa cartão.
Violência e traição são constantes na história de Jonathan Hickman The Black Monday Murders.
Antes de falarmos do roteiro de Hickman é importante falarmos sobre os recursos gráficos empregados por Tomm Coker.
Em vez de mostrar flashbacks da maneira tradicional, a dupla opta por se utilizar de documentos com parte das informações censuradas: diários, e-mails, fichas e outros, são parte importante da história que Hickman conta.
Quem leu os Vingadores do autor sabe que ele não faz muita questão de explicar tudo, o tempo todo, nos mínimos detalhes para o leitor – por isso a leitura atenta dos documentos presentes em The Black Monday Murders faz toda a diferença no entendimento da história.
“Nem tudo é o que parece” é o tema central. Logo no começo da história somos apresentados a um assassinato que mexe com a estrutura do maior banco de investimentos do mundo: a Caina-Kankrin.
O detetive Theo é designado para o caso e logo começa a se deparar com um mundo bem diferente do que imagina.
Rituais, sacrifícios de sangue e personagens absolutamente poderosos – em todos os sentidos – sem nenhuma vontade de compartilhar a verdade, são apenas alguns desafios do detetive.
O interessante é que Hickman não se apressa em definir um protagonista e dá espaço para que conheçamos bem os diversos personagens da trama.
The Black Monday Murders dá um significado novo as grandes tragédias das bolsas de valores.
A Trama de The Black Monday Murders
Tudo é política e poder. Estabelece-se que o mundo econômico é secretamente controlado por algumas famílias e existe uma estrutura de poder e revezamento que faz com que um tênue equilíbrio seja estabelecido – descobrir como isso funciona e qual papel de cada é uma das partes divertidas da HQ.
O que o autor também deixa claro desde o começo é o fato de que tudo é pago com sangue – mesmo entre esses homens que se consideram deuses.
Seus acordos com o “verdadeiro Deus”, Mamom, e suas tramas e esquemas para se tornarem sempre mais poderosos são o verdadeiro motor da história, que faz questão de mostrar que todos os personagens que não são parte desse “círculo” são só meios para que eles consigam o que querem e nada mais.
A postura arrogante é uma premissa nos integrantes das famílias e vê-los interagindo com personagens que estão de fora do pacto pode ser tragicômico. O detetive Theo que o diga!
Além do tema inovador – misturar mercado financeiro com seitas e sacrifícios não é corriqueiro nas HQs – The Black Monday Murders tem muitos personagens bem desenvolvidos e interessantes.
O russo Viktor é um deles. O poderoso russo exala arrogância e seu pacto com o grande Deus da HQ faz com que ele se sinta superior e invencível.
Uma das melhores sequências da história é justamente quando o personagem é levado pelo detetive para a delegacia.
Os diálogos inteligentes e o jogo de “gato e rato”, além dos eventos sobrenaturais, presentes nessa passagem, dão uma amostra perfeita do que podemos esperar do enredo que é muito hábil em citar eventos reais e dar um novo significado aos mesmos.
Em dada passagem um documento da HQ quer afirmar que é muito fácil tornar uma mentira verdade hoje em dia (principalmente por conta da tecnologia) e diz:
“Isso me lembra a citação de Mark Twain: Uma mentira pode dar a volta ao mundo enquanto a verdade ainda calça seus sapatos – só que, vocês sabem, não foi ele quem disse isso e desta vez são ambas as coisas”.
Prepare-se para uma enxurrada de frases memoráveis que fazem muito sentido!
Viktor discursa em uma faculdade nas páginas de The Black Monday Murders.
O resultado da união do escritor Jonathan Hickman e do artista Tomm Coker é um universo fascinante e místico onde a riqueza é poder. Tudo isso ganha vida em The Black Monday Murders. A HQ é altamente recomendada para leitores que gostam de uma história mais complexa e que conseguem manter um alto grau de atenção.
Mas fique tranquilo: a trama faz total sentido e não demanda um mestrado em economia nem nada do gênero.
O desenvolvimento e construção dos personagens, bem como o mundo satânico da história, são outros atrativos que nos prendem à narrativa de Hickman e Coker – a criação de diversos núcleos que se encontram nos momentos cruciais é mais um acerto que se soma a muitas outras boas decisões.
Inteligente, diferente e magnético são os melhores adjetivos para definir The Black Monday Murders, uma HQ que definitivamente merece estar na prateleira dos colecionadores mais exigentes!
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