por Alexandre Baptista
Hoje no Baú de HQs, vamos apelar para o clássico Batman: A Piada Mortal, de Alan Moore e Brian Bolland.
Publicada originalmente em 1988 pela DC Comics com o título Batman: The Killing Joke, a HQ foi traduzida e lançada no mesmo ano pela Abril, no número 5 da série Graphic Novel.
Depois disso, a obra jamais deixou as prateleiras das bancas e livrarias: um relançamento em capa cartão pela Abril em 1999 (ainda com as cores originais de John Higgins); uma versão em preto e branco pela Opera Graphica em 2005; a versão recolorizada por Brian Bolland em 2009 pela Panini, com reedições em 2011, 2015 e 2016; e a mais nova versão, da Eaglemoss, dentro da coleção A Lenda do Batman, junto com a também clássica Batman: O Homem Que Ri (Batman: The Man Who Laughs, 2005).
Comparações realizadas pelo blog Jim Smash entre as cores originais e expressionistas de Higgins e a recolorização pasteurizada de Bolland, mais palatável ao grande público.
A história, uma das obras-primas dos quadrinhos de super-heróis, tornou-se cânone no “bat-universo”, embora originalmente não fosse essa a inteção da DC Comics. Alan Moore se vale de sua magnífica habilidade narrativa para traçar paralelos entre o tempo presente e os ecos de fatos acontecidos no passado do Coringa, estabelecendo pontos chave na vida do personagem que o fizeram perder os eixos e se tornar o sádico e insano criminoso.
O argumento, que em muito ecoa o que parece ser a escolha de Todd Philips no vindouro longa Coringa (Joker, 2019), é o de que todo mundo pode “quebrar”… basta um dia extremamente ruim.
Com essa sólida base, o autor estabelece também paralelos entre o vilão e a figura do Cruzado Encapuzado, questionando a sanidade de alguém que se veste como morcego para caçar bandidos.
Na trama, o Coringa invade o apartamento de Bárbara Gordon, baleando-a e sequestrando-a, bem como a seu pai, o comissário de polícia James Gordon. O Palhaço do Crime mantém Jim Gordon em cativeiro, fazendo-o passar por todo tipo de tortura psicológica, tentando causar a ele “um dia muito ruim”.
O bem-estar de Bárbara Gordon é uma das provocações psicológicas que o Coringa usa contra Jim e, sobre isso, falamos em mais detalhes nessa matéria aqui.
Barbara Gordon e a censura: o estupro da garota foi alterado a pedido da editora.
A HQ é significativa não somente por ser a origem do ferimento que deixou Bárbara Gordon paraplégica e transformou a Batgirl em Oráculo; nem pelo final em aberto que sugere a morte do Coringa pelas mãos do Batman (fato ignorado pela DC Comics para incluir a HQ no cânone).
Além de tudo isso, Batman: A Piada Mortal é importantíssima pois estabelece o Coringa como antítese do Batman (algo inédito até então); por humanizar a origem do vilão, dando a ele um passado de sofrimento e fracasso, incluindo uma família – esposa e bebê – mortos por uma ironia da vida, além, é claro, do acidente na indústria química; e também, por sedimentar o visual do Coringa, que permaneceu inclusive como referência para encarnações mais recentes.
Coringa em um visual clássico, inspirado no Coringa de Cesar Romero
Batman: A Piada Mortal pode ser negada por Todd Philips como inspiração para seu longa do personagem, mas é indiscutível que a leitura é obrigatória, tendo sido pioneira em um tratamento mais realista e calcado nas tragédias pessoais, aprofundando a discussão sobre o personagem e suas reais motivações.
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