As Animações do Studio Ghibli na Netflix – Parte 3

Em 9 de Abr de 2020 • 11 minutos de leitura
animações do studio ghibli pt 3

Hoje, 1 de abril, a Netflix colocou em seu catálogo o terceiro e último lote da filmografia do Studio Ghibli. Agora, mais sete filmes já estão disponíveis, completando o catálogo incrível do estúdio, e vamos falar deles hoje:

 

Pom Poko: A Grande Batalha dos Guaxinins (1994)

 

Depois de filmes com o tom mais sério (túmulo dos vagalumes e Only Yesterday),  Isao Takahata faz aqui uma animação mais leve, voltada para o público infantil. Na trama, que acontece no fim da década de 60, após o grande crescimento de indústrias no Japão, vários animais estão perdendo seu lar graças a onda de desmatamento que está ocorrendo. O filme segue um grupo de “Tanukis” (típico específico de guaxinim encontrado no japão) com poderes sobrenaturais que se unem para tentar impedir que os humanos continuem destruindo sua casa.

O estilo do filme é bem direcionado ao público infantil, com o design se parecendo muito com “ursinhos carinhosos”, porém, o tom ambientalista do enredo torna o filme também agradável aos adultos. 

Pom Poko, ao beber das lendas japonesas envolvendo os Tanukis, caiu em uma polêmica. Nas histórias originais desses animais , os testículos tem grande destaque. Takahata não viu problema em retratar isso em um filme infantil, inclusive dando poderes e funções aos testículos, mas quando o filme chegou em outros mercados, as cenas tiveram que ser editadas.

Com um visual infantil e um desenvolvimento arrastado , mas contando com um tema ambientalista e personagens interessantes, Pom Poko não está na lista de melhores filmes do Studio Ghibli, mesmo assim vale ser visto.

Avaliação: Bom

Sussurros do Coração (1995)

 

Baseado no mangá de mesmo nome de Aoi Hîragi, ‘Sussurros do coração’ tem roteiro de Hayao Miyazaki mas é dirigido por Yoshifumi Kondo. Assim como ‘Only Yesterday’ e ‘Ocean Waves’, é um filme do Ghibli sem aventuras épicas, e sim, um filme mais pé no chão, de cotidiano.

A história acompanha Shizuku, uma estudante da escola secundária, enquanto ela tem um encontro casual com uma misteriosa loja de antiguidades, e o garoto Seiji Amasawa, neto do dono da loja. Um iniciante em violino, Seiji também atraiu a atenção de Shizuku, pois ela notou por um tempo que o nome dele está escrito nos cartões dos livros que ela empresta da biblioteca. A paixão de Seiji pela fabricação de violinos inspira Shizuku a seguir seu sonho de escrever um romance.

É um filme simples, porém com tons melancólicos, que brilha justamente pela doçura da relação dos personagens. A animação é mais simples, também para combinar com o teor e objetivo do filme. A trilha sonora é um dos destaques, com incríveis arranjos.

No começo do ano, foi noticiado pelo “Anime News Network”  que a Sony Pictures Entertainment está fazendo um filme live-action que será ambientado 10 anos após a história original.

O diretor, Yoshifumi Kondo, que era um dos cotados para assumir o Studio Ghibli após a aposentadoria de Miyazaki e Takahata, morreu em 1998, por dissecção aórtica aparentemente causada por estresse devido ao trabalho, porém nos deixou uma obra que tem méritos e merece ser apreciada.

Ultimato do Bacon

Avaliação: Ótimo

O Castelo Animado (2004)​

Dirigido por Hayao Miyazaki, a história de “O Castelo Animado” é baseada no livro “Howl’s Moving Castle”, da escritora inglesa Diana Wynne Jones. Na trama, Sofia é uma jovem de 18 anos que trabalha na chapelaria de seu pai. Em uma de suas raras idas à cidade ela conhece Hauru, um mágico bastante sedutor mas de caráter duvidoso. Ao confundir a relação existente entre eles, uma feiticeira lança sobre Sofia uma maldição que faz com que ela tenha 90 anos. Desesperada, Sofia foge e termina por encontrar o Castelo Animado de Hauru. Escondendo sua identidade, ela consegue ser contratada para realizar serviços domésticos no local, se envolvendo com os demais moradores do castelo.

O castelo animado tem tudo de bom do Studio Ghibli: Personagens cativantes, um mundo fascinante e cenários incríveis. A habilidade de criar máquinas também aparecem em tela em sequências maravilhosas.  A animação é em sua maioria feita a mão, ao estilo clássico, por Miyazaki, que só usa computação gráfica de maneira pontual e precisa.

Além disso, o diretor faz de castelo animado uma crítica às guerras, inspirado pelo seu horror principalmente à Guerra do Iraque. Miyazaki não poupa, e mesmo podendo não agradar norte-americanos e outras nações, ele põe seu ponto de vista de maneira objetiva e clara. Não contente em só criticar as guerras, Miyazaki ainda toca em temas como amadurecimento, alienação na sociedade, felicidade e pertencimento.

O filme possui uma pontuação 80/100 no Metacritic, venceu os prêmios do Festival de Veneza e do New York Film Critics Circle, foi indicado ao Oscar de 2005 e está na lista de melhores animações de todos os tempos sem sombra de dúvidas. Mais uma obra-prima de Miyazaki.

Avaliação: Impecável

Ponyo – Uma Amizade que Veio do Mar (2008)

O filme é escrito e dirigido também por Hayao Miyazaki. Na história, Sosuke é um garoto de cinco anos que mora em um penhasco, com vista para o Mar Interior. Um dia, ao brincar na praia, encontra Ponyo, uma peixinho dourado cuja cabeça está presa em um pote de geleia. Ele salva a peixinho e a coloca em um balde verde. Trata-se de amor à primeira vista, já que Sosuke promete que irá cuidar dela. Só que Fujimoto, que um dia foi humano e hoje é feiticeiro no fundo do mar, exige que Ponyo retorne às profundezas do oceano. Para ficar ao lado de Sosuke, Ponyo toma a decisão de tornar-se humana.

Com uma animação bonita, contando com cores incríveis, e com belos detalhes, a história que parece simples se torna logo em um incrível conto infantil. É uma história simplista e pequena , porém, com um aspecto bonito e amigável.

Com o mesmo espírito do clássico “Meu Vizinho Totoro”, ‘Ponyo’ é uma animação leve e descompromissada, feita para crianças, porém, com uma bela animação, e uma história doce e positiva que também encantará adultos.

Ultimato do Bacon

Avaliação: Ótimo

Da Colina Kokuriko (2011)​

Depois do controverso ‘Contos de Terramar’ (lembra dele na parte 1 do especial ?), Goro Miyazaki retorna a direção em ‘Da Colina Kokuriko’. Na animação, a adolescente Umi vive em cima de colina, com vista para o porto de Yokohama. Desde que seu pai desapareceu em alto mar, ela ergue duas bandeiras no quintal de casa, como uma mensagem lançada ao horizonte.

Estes sinais tornam-se conhecidos por todos os jovens do bairro, sendo o objeto de um artigo no jornal do campus. O autor do texto, Shun, acaba se aproximando de Umi, dando início a uma relação entre os dois. Mas quando eles descobrem um segredo sobre o passado de ambos, esta história de amor e amizade corre o risco de desaparecer.

Talvez por ser bem menos épico que o seu antecessor, neste filme, Goro se sai muito melhor. É mais uma história pé no chão do estúdio, que emociona pela relação dos personagens, porém com menos diálogos maçantes como em outras animações, mesmo em meio a um roteiro que as vezes chega a ser arrastado.

Um dos pontos positivos do filme, além da bela animação, é que mesmo em um roteiro simples, Goro consegue colocar críticas sociais em meio a um Japão Pós Guerra e prestes a sediar uma Olimpíada, já que o filme se passa em 1963, e os jogos seriam no ano seguinte. Além disso, o filme conta com um belo plot twist no seu desenvolvimento.

Ultimato do Bacon

Avaliação: Ótimo

Vidas ao Vento (2013)

Após trinta e quatro anos fazendo filmes, e se consagrar como um dos maiores gênios dos filmes animados, Hayao Miyazaki decidiu que estava na hora de se aposentar. Baseado em um mangá de sua própria autoria, ‘Vidas ao Vento’, que teve a responsabilidade de fechar a incrível obra de Miyazaki,  nos apresenta Jiro Horikoshi que vive em uma cidade do interior do Japão.

Um dia, ele começa a desejar voar em um avião com formato de pássaro. A partir desse desejo, ele decide que construir um avião e colocá-lo no ar é a meta da sua vida. Durante a busca pelo seu sonho ele conhece Naoko, uma jovem encantadora por quem se apaixona. No entanto, algo horrível ocorre e o futuro do casal fica ameaçado.

Aficionado por máquinas e aviões, já demonstrando isso em outros filmes do Ghibli, Miyazaki faz um filme biográfico que conta a vida de Jiro Horikoshi, um engenheiro de aviões, responsável pelo modelo usado pelos aviadores japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.

A animação de Vidas ao Vento é a mais genérica e simples possível, além disso, o uso do CG não foi bem encaixado em várias cenas. O roteiro não tem a precisão de outros de Miyazaki, e as vezes se perde no que quer contar.

‘Vidas ao vento’ era pra fechar com chave de ouro, mas infelizmente, se tornou o filme que menos gosto de Miyazaki. É um filme ‘ok’ , que não tem o brilho de outros do diretor e se perde em  um roteiro sem foco, e uma animação clichê. No fim, um gênio deu adeus em uma despedida morna, em que todos esperavam mais. 

Avaliação: Bom

As Memórias de Marnie (2014)

Após os últimos trabalhos de Hayao Miyazaki e Isao Takahata, os fundadores do Ghibli, o estúdio anunciou que pararia de fazer animações por tempo indeterminado. ‘Memorias de Marnie’ é o filme que encerra a filmografia do Ghibli. É dirigido por Hiromasa Yonebayashi (que antes tinha feito “O mundo dos pequeninos”, falamos dele na parte 2) e baseado no romance “When Marnie Was There” escrito por Joan G. Robinson.

Na trama, Anna é uma garota muito solitária que vive com seus pais adotivos e não tem amigos. Ao se mudar para uma cidade do interior, acaba se tornando amiga de Marnie, que na verdade, não é bem aquilo que aparenta ser. A amizade das duas vai bem até que um dia, Marnie desaparece misteriosamente. Algum tempo depois, uma nova família se muda para casa onde ela vivia e Anna acaba fazendo amizade com as pessoas de lá, e vai descobrir coisas muito estranhas sobre sua amiga.

A animação volta a ter o brilho do Ghibli, com paisagens espetaculares. Yonebayashi faz um filme que não está no panteão dos melhores do Ghibli, mas é muito competente no que se propõe. O diretor constrói uma relação profunda entre as personagens que desencadeia em um final tocante.

Com um filme triste e bonito, porém singelo e delicado, uma das maiores casas criativas de animações de todos os tempos fechou as portas.

Ultimato do Bacon

Avaliação: Ótimo

E tumulo dos vagalumes? Por quê não entrou na Netflix??

Sim pessoal, Túmulo dos Vagalumes é o único filme do Ghibli que não entrou na Netflix e explico o porquê.

A obra prima de Isao Takahata, que conta a história dos irmãos Setsuko e Seita em plena segunda guerra mundial, foi enviada junto com “Totoro”, em 1988, em um projeto duplo, para a ‘Tokuma Shoten’, que bancava as produções do Ghibli. Ela rejeitou o projeto.

A ‘Shinchosha’, que é a editora que havia publicado a história original do túmulo dos vagalumes, se ofereceu para bancar a produção do filme e o projeto duplo foi dividido de forma que a Tokuma Shoten ficou com ‘Totoro‘ e a Shinchosha com ‘Túmulo dos Vagalumes’.

Até os dias atuais essa divisão permanece de forma que, quem quer lançar ‘túmulo dos vagalumes’ tem que negociar diretamente com a empresa que o bancou, e que é dona da licença, fazendo com que tumulo dos vagalumes necessite de uma negociação totalmente separada dos outros filmes do Ghibli.

Isso acarretou que alguns boxes da filmografia do Ghibli foram lançados, inclusive no japão, sem ‘túmulo dos vagalumes’ e também é o motivo para a Netflix não ter colocado junto com os outros filmes do estúdio. Vamos torcer para a Netflix se interessar e ir atrás do filme.

Espero que tenham gostado desse especial aqui no Ultimato do Bacon e aproveitem esses filmes incríveis que agora estão disponíveis para todo mundo através da Netflix.

Falaremos mais do Studio Ghibli aqui no UB . Que tal uma matéria especial sobre os bastidores da fundação e do fechamento do estúdio ?  Fiquem ligados.

 

Confira a parte 1 e 2 das matérias sobre as animações do Studio Ghibli na Netflix:

AS ANIMAÇÕES DO STUDIO GHIBLI NA NETFLIX – PARTE 1

AS ANIMAÇÕES DO STUDIO GHIBLI NA NETFLIX – PARTE 2


Créditos:

Texto: Breno Raphael
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brise

Texto publicado originalmente em 01 de abril de 2020. Atualizado em 09 de abril de 2020.
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