A Lenda de Golem (The Golem) | |
Ano: 2018 | Distribuição: PlayArte |
Estreia: 13 de Junho de 2019 (Brasil) |
Direção: Doron Paz, Yoav Paz Roteiro: Ariel Cohen |
Duração: 95 Minutos |
Elenco: Hani Furstenberg, Ishai Golan, Brynie Furstenber, Konstantin Anikienko |
Sinopse: “Uma vila judaica do século 19 é invadida por pagãos. Para salvar a família e seu povoado, Hanna, uma fiel com vasto conhecimento na mitologia judaica, decide invocar a ajuda de uma antiga criatura: o Golem. Invocado no barro, o garoto ganha vida e faz de tudo para proteger sua criadora, inclusive matar qualquer inimigo.”
[tabby title=”Alexandre Baptista”]
A Lenda de Golem tem ótima premissa, mas desempenho abaixo do esperado
Lenda judaica é explorada de maneira burocrática e pouco envolvente no longa que estreia amanhã, 13 de junho nos cinemas
por Alexandre Baptista
As figuras obscuras fazem parte do imaginário humano desde tempos imemoriais. Assim como o grande mistério “de onde vem a vida”, a mente humana busca explicações para fenômenos desconhecidos e povoa sua tradição oral e literária com seres místicos, imanentes e transcendentes: bruxas, demônios, espíritos, deuses, elfos, hobbits e tantos outros.
Quando um número grande pessoas de fato acredita nesses seres, isso passa a ser religião. Temos assim o Deus cristão e judaico; Alá; as divindades africanas; o espiritismo; entre outras: mitologias que ainda têm um número grande de fanáticos, fadadas à permanência ou ao esquecimento de acordo com a eficácia e eficiência de seu próprio “marketing”.
O Golem é uma das grandes lendas difundidas pela Cabala, disciplina do judaísmo que estuda a Torá (as escrituras sagradas desta religião). Aproveito para pedir perdão aos judeus de saída: embora tenha pesquisado para escrever este texto, posso estar cometendo algum equívoco.
O Golem é uma vida artificial, criada através de um ritual e elementos místicos. Geralmente feito a partir do barro, não possui a mesma característica da vida divina – uma vez que é uma “vida” conjurada por mãos humanas – sendo assim um ser imperfeito, obtuso, pouco inteligente e sem habilidade da fala.
A premissa de A Lenda de Golem se inpira na primeira história que figura o personagem, publicada originalmente em 1847. No entanto, ela funciona como uma continuação do conto (que ganhou uma adaptação para os cinemas em O Golem, Como Ele Veio ao Mundo (Der Golem, wie er in die Welt kam, 1920) por Paul Wegener.
Na trama, anos depois da primeira criação e destruição do Golem por um rabino, um vilarejo judeu vive dentro dos costumes e crenças da religião. Hanna e Benjamin são casados e seguem as palavras da Torá. No entanto o casamento deles vai mal pelo que parece ser um problema de fertilidade do casal.
Essa dinâmica familiar e religiosa – que serviria como um pano de fundo para os fatos que se desenrolam posteriormente no longa – acabam sendo a tônica principal da narrativa, transformando uma premissa interessantíssima ao terror em um drama meia-boca, permeado de discursos ideológicos velados.
Ao longo do filme, ficamos sabendo que o casal perdeu um filho, que se afogou em um rio. Ao mesmo tempo, pagãos invadem de maneira truculenta as terras do povoado judeu, causando mortes e caos. Eles exigem que a curandeira da vila salve a filha do líder do grupo invasor, contaminada pela peste.
Hanna, num ato de rebeldia contra as orientações do sacerdote, usa das lendas antigas do judaísmo para invocar o Golem. Assim, a criatura vem à vida, aparecendo na forma de uma criança, vista pela mulher como seu filho morto Joseph.
Só que, para chegar nesse ponto, a produção, que tem pouco mais de uma hora e meia de duração, gasta quase dois terços do filme. O ritmo é péssimo e o espectador passa a realizar seus próprios rituais na cadeira do cinema para que o Golem venha logo. Cheguei a pedir para que ele viesse me buscar dali. Mas infelizmente não funcionou.
Os figurinos e cenários oscilam, ora parecendo uma novela qualquer da rede do Bispo, ora parecendo algo um pouco melhor… algum home video qualquer de produtora norte-americana.
O elenco é bastante ruim, chegando a distrair o público com expressões exageradas em determinados momentos e a completa ausência de expressão em outros. No entanto, justiça seja feita, Konstantin Anikienko, o garotinho que faz o Golem, se salva. Sua expressão de impassividade é perfeita e assustadora, sendo o único ponto admirável (além da premissa) neste filme.
A trilha sonora de Tal Yardeni mostra que o músico tem boas inspirações e um direcionamento que talvez indique um futuro promissor na indústria. O único detalhe é: certamente mostraram um filme diferente para que ele compusesse a trilha. Temas épicos no melhor estilo blockbuster de galáxias muito distantes em um drama de época não me parece ser uma escolha consciente. Prefiro acreditar que ele fez a trilha para outro filme e esqueceram de notifica-lo sobre a mudança.
Considerando que a maioria dos nomes envolvidos na produção tem pouca experiência no mercado, é possível reconhecer que existe um certo potencial. É normal que o trabalho de roteiristas, atores e atrizes, diretores e produtores evolua conforme sua experiência e ganhe refinamento com a possibilidade de mais recursos proporcionados por maiores orçamentos.
Por outro lado, percebe-se também que a maioria dos nomes faz parte de uma das comunidades mais corporativistas que existe no planeta. Absolutamente nada contra, manda quem pode, obedece quem tem juízo. Mas não é à toa que um filme com esta qualidade tenha chegado a um lançamento e um burburinho tão injustificados e desproporcionais.
Shalom!
Avaliação: Ruim
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