Se você é fã de histórias cotidianas que retratam a vida no seu dia a dia mas também nos seus momentos extraordinários, A Guerra de Alan de Emmanuel Guibert é uma ótima pedida para você por dois motivos. O primeiro é que a narrativa retrata a história de um soldado norte-americano durante e depois da 2ª Guerra Mundial – sua atuação, seus pensamentos, sua rotina no quartel e muito mais. O segundo é que é tudo real!
O autor constrói a HQ através de conversas que teve com Alan quando ele já tinha 69 anos (1994). A edição traz um belo prefácio contando detalhes sobre a amizade dos dois.
A Guerra de Alan de Emmanuel Guibert, ao contrário do que o nome sugere, não é uma narrativa de ação e de aventura. É uma trama sobre os encontros e desencontros da vida e de como as circunstâncias podem moldar as nossas escolhas.
Alan é um protagonista muito cativante e isso acontece justamente por ele ser real: muda de ideia, se arrepende de tópicos do seu passado, compartilha suas vitórias e derrotas e tem consciência do caminho que escolheu na vida. Apesar da maioria dos leitores de HQs não terem vivido uma guerra, me parece seguro dizer que é fácil se identificar com o protagonista.
Situações cotidianas da guerra e da vida do protagonista são abordadas na HQ A Guerra de Alan de Emmanuel Guibert
A obra de Emmanuel Guibert foi originalmente lançada na Europa em 2000 (infelizmente Alan faleceu em 1999 e não pode ver a HQ que narra sua vida pronta) e chegou ao Brasil em 2010 em uma edição da Zarabatana Books que conta com 336 páginas em preto e branco.
A trama da HQ A Guerra de Alan de Emmanuel Guibert
Nada de histórias fantásticas com muita ação, heroísmo e situações impossíveis. A trama de Emmanuel Guibert segue de maneira fiel – segundo o próprio – a narrativa que o protagonista confidenciou em conversas.
A HQ começa mostrando Alan descobrindo o bombardeio de Pearl Harbor em 1941 (fato que levou os EUA a entrarem na 2ª Guerra Mundial) e tendo sua vida mudada pelo início do alistamento militar.
O protagonista fala de todo seu trajeto – de forma detalhada – até a ida para a Europa. Ficamos sabendo das condições dos quartéis, de como eram as refeições, das escolhas militares que Alan fez e do treinamento em si.
É importante dizer que são justamente os detalhes presentes na obra que a tornam especial – é como ver o funcionamento de um mundo totalmente diferente do nosso (ao menos enquanto a narrativa está no período da Guerra e no imediato pós-Guerra).
Obs. Até sobre doenças comuns no quartel e seus tratamentos Alan fala – só para se ter noção de quão detalhada é a história!
Os amigos do protagonista ajudam a movimentar a história da HQ A Guerra de Alan de Emmanuel Guibert
Se o período da Guerra retratado na HQ chama a atenção por nos apresentar detalhes desconhecidos, podemos dizer que os anos posteriores são movimentados pelas escolhas de vida de Alan (sejam elas forçadas/induzidas ou conscientes) e pelos amigos e colegas que cruzam seu caminho.
O autor constrói a narrativa de todos os personagens de forma muito contundente e conseguimos entender sua jornada e sua forma de pensar. Isso é interessante porque em muitos momentos esses personagens entram em desacordo com o próprio protagonista que dá sua visão da época e sua visão atual (sendo esse “atual” o momento de suas conversas com o quadrinista).
Ao contrário do que acontece na maioria das histórias, A Guerra de Alan de Emmanuel Guibert não apresenta um protagonista seguro de suas decisões e sempre disposto a batalhar/brigar por elas.
Alan é extremamente real e por isso identificável – ele se contradiz, erra e admite seus erros, se arrepende e muda de opinião até em grandes decisões. Assim como a maioria de nós, ele não tem tudo planejado e parece quase que viver um dia de cada vez.
O protagonista narra suas missões na HQ A Guerra de Alan de Emmanuel Guibert
Emmanuel Guibert é dono de um traço interessante e simples que parece casar perfeitamente com o roteiro (que é a grande estrela da obra). A ausência de grandes detalhamentos e cenários na maioria das páginas nos ajuda a focar no texto – que muitas vezes aparece de forma massiva nos quadros. Essa característica passa longe de ser ruim, mas pode incomodar leitores que estão mais habituados com as HQs mainstream.
A Guerra de Alan de Emmanuel Guibert é uma obra que definitivamente não é para qualquer leitor. É preciso estar no espírito de uma leitura mais cotidiana e pautada na realidade – mesmo que essa realidade seja cercada por fatos pouco comuns para nós.
Uma ótima leitura que tem o poder de nos fazer refletir sobre nossas próprias ações e escolhas através da identificação com Alan.
Avaliação: Excelente!
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Créditos:
Texto: Lucas Souza
Imagens: Reprodução
Edição: Diego Brisse
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