A Cinco Passos de Você – O Ultimato

Em 21 de Mar de 2019 • 7 minutos de leitura
A Cinco Passos de Você (Five Feet Apart)
Ano: 2019 Distribuição: Paris Filmes
Estreia: 21 de Março (Brasil)

Direção: Justin Baldoni

Roteiro: Mikki Daughtry, Tobias Iaconis

Duração: 116 Minutos  

Elenco:  Cole Sprouse, Haley Lu Richardson, Claire Forlani

Sinopse: “Stella Grant (Haley Lu Richardson) tem quase dezessete anos de idade, vive conectada ao seu laptop e ama seus melhores amigos. Mas ao contrário da maioria das adolescentes, ela passa grande parte do seu tempo vivendo em um hospital como paciente com fibrose cística. Sua vida é cheia de rotinas, limites e autocontrole – tudo isso é testado quando ela encontra um paciente incrivelmente charmoso chamado Will Newman (Cole Sprouse). Há um flerte instantâneo, embora as restrições determinem que eles devem manter uma distância segura. À medida que a conexão se intensifica, aumenta a tentação de jogar as regras pela janela e abraçar essa atração. Para complicar ainda mais, Will desenvolve uma rebelião potencialmente perigosa contra seu tratamento médico. Stella gradualmente inspira Will a viver a vida ao máximo, mas ela poderá salvar a pessoa que ama mesmo quando um único toque ultrapassa os limites?”

 

 

 

[tabby title=”Alexandre Baptista”]

A Cinco Passos de Você abusa de clichês, fórmulas e lugares-comuns para retratar o romance entre dois pacientes com fibrose cística

Longa que estreia amanhã, 21 de março, é típico caça-níquel realizado para “surfar o hype” de um subgênero; nesse caso, o “romance hospitalar”

por Alexandre Baptista

 

Antes de iniciar a crítica propriamente dita, acho importante ressaltar que busco aqui analisar o filme em questão, seja como produto, obra de arte ou forma de expressão e conscientização para um determinado assunto ou questão. Em último caso, tento responder a pergunta do leitor que vem ao site e que, geralmente é: “será que eu vou gostar desse filme?”.

Assim como filmes de terror, filmes de ação, filmes de super-heróis, etc. os dramas adolescentes, romances e chick flix em geral também são filmes de nicho. O que quer dizer que não é todo o público que se identifica com esse tipo de filme.

Assim sendo, gostaria de deixar claro que sei e tenho certeza de que muita gente vai gostar de A Cinco Passos de Você. Muita gente vai se reconhecer no drama de Stella (Haley Lu Richardson) e Will (Cole Sprouse), especialmente as pessoas que batalham contra a fibrose cística, seja por encontrarem em suas próprias vidas pequenos reflexos das coisas mostradas em cena; seja por gostarem irredutivelmente do gênero. Fato é que muitas pessoas irão discordar imensamente da minha opinião. E não há problema nenhum em gostar de um filme, seja ele bom ou ruim.

Depois de ter conferido muitos exemplares mais originais desse recente subgênero como A Culpa é das Estrelas (The Faut in Our Stars, 2014), de onde o longa dirigido por Justin Baldoni assumidamente deriva (vide o trailer); Como Eu Era Antes de Você (Me Before You, 2016), que conta com outro personagem principal chamado Will (um nome procurado por autores do gênero, já que, em inglês tem vários significados como “força de vontade”, “boa vontade” e “testamento”, propiciando clichês irresistíveis para escritores preguiçosos); Não Me Abandone Jamais (Never Let Me Go, 2010), um dos grandes culpados pelo hype do romance hospitalar, baseado no best seller homônimo de Kazuo Ishiguro, vencedor do Nobel de Literatura em 2017 e que usa da ficção científica como pano de fundo do drama existencial; e outros da leva mais antiga como Outono em Nova York (Autumn in New York, 2000) e Doce Novembro (Sweet November, 2001), este refilmagem de um dos primeiríssimos do gênero, Por Toda a Minha Vida (Sweet November, 1968), A Cinco Passos de Você parece mais uma sátira da MADTv ou Saturday Night Live desse tipo de filme.

A atuação do elenco não convence, é forçada e exagerada e provoca pouca empatia com o público, fazendo com que até o momento mais emocionante não provoque reação alguma além do bocejo e a vontade de que o filme acabe logo. Cole Sprouse é monocórdico, inexpressivo e irritante de uma forma que vai além do personagem. Haley Lu, embora mais simpática, não dá profundidade às cenas e a impressão é de que em qualquer momento mais sério ela vai fazer uma careta qualquer e alguma observação “inteligente”.

Tudo no longa é exacerbado: os doentes estão sempre, absolutamente sempre, com os cabelos com um aspecto de sujo e desalinhado; as experientes enfermeiras da ala de fibrose cística do Hospital Saint Grace, em qualquer emergência, se desesperam como jovens deslumbradas que nunca viram uma situação de risco na vida, mais histéricas que os familiares; o pai de Stella dorme sentado em uma postura de fazer inveja aos guardas reais britânicos; e um sem-número de outros detalhes que tornam o longa praticamente ridículo, apesar de trazer atenção para uma grave e séria doença.

Talvez seja esse o único ponto digno de nota acerca da produção, elegantemente vinculado pela distribuidora, a Paris Filmes, que no Brasil se aliou ao Unidos Pela Vida – Instituto Brasileiro de Atenção à Fibrose Cística em uma campanha que visa trazer mais conscientização sobre a doença.

Ainda assim, em uma das cenas do filme, Stella chama a atenção de Will para que não desperdice “o privilégio” de estar em um programa de teste de novas drogas. E aí há um grande problema.

Não, não é um privilégio. Novas drogas que sejam eficazes em quaisquer tratamentos são uma esperança aos pacientes sim; porém o desenvolvimento das mesmas não vem de uma organização humanitária, sem fins lucrativos ou algo do tipo, e sim, de uma empresa farmacêutica, que lucra (e muito, imensamente) com isso. Os testes são uma via de mão dupla que favorece mais à indústria que ao paciente (que assina um termo de total responsabilidade, inclusive sobre a potencial própria morte) e, ouvir no longa uma personagem que enfrenta essa batalha desde criança proferir um disparate desses, é simplesmente ultrajante. Não é um privilégio, é uma última tentativa, uma última esperança, que possui efeitos previstos mas não comprovados mas também, potenciais efeitos colaterais (às vezes graves) que, ainda por cima, maximiza os lucros da indústria farmacêutica.

Apesar disso parecer apenas um detalhe, essa cena demonstra a total falta de comprometimento do filme em retratar um drama realista e toda a trama só reforça ainda mais essa ideia do conjunto de clichês emaranhados ao redor da fibrose cística: todas as tragédias possíveis acontecem com Stella (não vou enumerá-las para não estragar a surpresa de ninguém); preparem-se também para uma cena que deixaria Jack e Rose de Titanic (1997) orgulhosos; confiram como reproduzir a cena na neve de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004), só que esvaziada de sentido; e fiquem atentos à pior e mais previsível reviravolta do cinema na figura da irmã de Stella, Amy.

Depois disso tudo, acredito ser desnecessário mencionar a direção do longa e passo então à trilha sonora, que consegue manter o baixo nível do filme. Destaque especial para a versão gentryficada e hipster de Kate Davis de My Baby Just Cares for Me (original de 1930 de Walter Donaldson – Gus Kahn), mostrando como transformar um clássico em algo genérico, sem destaque e sem identidade definida – o que, pensando bem, encaixa perfeitamente na atmosfera geral do longa.

Para finalizar, vale lembrar que geralmente os dramas adolescentes tem suas raízes na literatura, em livros de autores venerados pelas jovens como Jojo Moyes, John Green, Nora Roberts, etc. A Cinco Passos de Você segue o caminho inverso e ganhará um livro escrito a partir do roteiro, completando o ciclo de “produto parecido com A Culpa é das Estrelas”: um longa genérico, sem novidades ou surpresas.

Uma excelente pedida aos fãs convictos do gênero… ou talvez, nem isso.

 

 

Avaliação: Ruim

 

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Trailer:

 
 
 

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